
"The Gilded Age" está de volta à Max. A terceira temporada da série estreou-se esta segunda-feira, dia 23 de junho, e, nos novos episódiosnos novos episódios, após a Guerra das Óperas, a velha guarda está enfraquecida e os Russell estão prontos para ocupar o seu lugar à frente da sociedade.
"Bertha está de olho num prémio que elevaria a família a patamares inimagináveis, enquanto George arrisca tudo numa aposta que poderá revolucionar a indústria ferroviária — se não o arruinar primeiro. Do outro lado da rua, a família Brook é lançada no caos quando Agnes se recusa a aceitar a nova posição de Ada como dona da casa. Peggy conhece um belo médico de Newport, cuja família não está nada entusiasmada com a sua carreira", adianta a Max.
"À medida que Nova Iorque avança em direção ao futuro, a sua ambição pode custar o que realmente prezam", acrescenta o serviço de streaming, frisando que "a Era Dourada americana foi um período de muitas mudanças económicas e sociais, quando se construíram impérios, mas nenhuma vitória chegou sem sacrifício".
"O maior desafio em televisão é sempre conseguir fazer a série"

Em conversa com o SAPO Mag e vários meios de comunicação, o criador Julian Fellowes (“Downton Abbey”) e a argumentista Sonja Warfield partilharam detalhes sobre o processo de criação da terceira temporada de "The Gilded Age". Começamos por nós mesmos, por conversarmos sobre o que queremos que as personagens façam naquela temporada e para onde estão a ir", explica a guionista.
"O maior desafio em televisão é sempre conseguir fazer a série. E é aí que realmente se começa. E, de facto, quando finalmente se consegue a autorização, se vai fazer a série e se tem uma data marcada, isso é motivo para uma grande comemoração no mundo da televisão, porque muitas vezes não é assim que as coisas acontecem. Então, de certa forma, esse é o desafio de conseguir fazer a série", confessa Julian Fellowes.
"Acho que o desafio, pelo menos para nós, é fazer o mais preciso possível e não cair na armadilha de fazer as pessoas dizerem ou fazerem coisas que só fariam agora e que não fariam em 1882 ou em qualquer outra época. Para mim, é muito importante que nos mantenhamos dentro dos limites do que é crível", frisa o criador da série ao SAPO Mag.

A preocupação com a fidelidade ao contexto histórico não significa ignorar figuras fora do comum — pelo contrário. Fellowes sublinha que, mesmo na época retratada, havia quem desafiasse as convenções: "Claro que, mesmo naquela época, havia pessoas à frente do seu tempo e havia pessoas que tinham ideias interessantes ou eram mal vistas por serem demasiado informais ou algo do género. Não me importo com isso. Mas quando nos desviamos para o pensamento moderno e começamos a admirar uma mulher que saiu da casa dos pais e foi viver um pouco, então estamos perdidos, porque perdemos o contacto com a sociedade que devemos representar".
Entre o passado e o presente

Para Sonja Warfield, o objetivo é contar histórias de "pessoas reais". "Mesmo sendo da década de 1880, eles são iguais a nós. Têm defeitos, são multidimensionais. Os temas que discutimos e os temas que as nossas personagens têm de explorar são temas universais, como amor, casamento, ambição, sucesso e perda", destaca.
"Mas, de certa medida, as soluções ou o fim da sua luta seriam diferentes dos nossos. Se hoje estás muito infeliz no teu casamento, vives no Ocidente e várias outras circunstâncias se aplicam, então provavelmente vais divorciar-te. Eles não se divorciariam, a menos que fosse uma situação muito extrema. Mas isso não altera o facto de que, no meio, há um casal que se casou a pensar que seria feliz e descobriu que é infeliz. E isso é o mesmo em 1882 ou em 2024, 2025. Acho que é útil para nós encontrar o máximo de paralelos possível entre a forma como alguém teria reagido a uma situação naquela época e como reagiria hoje", remata o criador da série.
"As mulheres internalizam o patriarcado"
A luta pelos direitos das mulheres, o peso das convenções sociais e os paralelos entre passado e presente são temas centrais em "The Gilded Age". No primeiro episódio da terceira temporada, uma das personagens dia que “a sociedade não é conhecida pela sua lógica, especialmente em relação às mulheres". A observação, embora situada no final do século XIX, ecoa até aos dias de hoje.
"Acho que a sociedade era, de certa forma, uma contradição, porque uma parte do mundo privilegiado era inteiramente governada por mulheres. Não há nenhum país ocidental onde a sociedade fosse liderada por homens. Era governada por mulheres. E as mulheres faziam as regras e insistiam em que fossem cumpridas. Mas a ironia é que elas eram mais duras com as mulheres do que com qualquer outra pessoa, certamente com os homens. E elas eram, em termos de fracasso no casamento e, eventualmente, da chegada do divórcio e assim por diante, muito mais duras com as mulheres do que com um homem que se divorciava e, no geral, conseguia superar isso e seguir em frente", lembra o criador.
E, nos negócios, os homens faziam acordos entre si, enquanto as suas esposas raramente se encontravam e quase nunca se divertiam juntas. Acho, aliás, que haveria um estudo bastante interessante a fazer sobre o motivo pelo qual, na única área onde as mulheres governavam e dominavam, eram mais duras com outras mulheres do que com os homens desse mesmo grupo", acrescenta.
Para Sonja Warfield, "as mulheres internalizam o patriarcado tal como todas as outras pessoas". "Quero dizer, isso acontece com grupos marginalizados. Eles internalizam o racismo e depois projetam-no uns nos outros. Por isso, é muito triste. Quero dizer, já foram escritos livros e artigos sobre mulheres em cargos executivos e mulheres em cargos de CEO e em cargos administrativos que não se ajudam umas às outras. Então, acho que é um tema universal desde a década de 1880 até hoje, e é lamentável", advoga.

"Ainda existem áreas no mundo empresarial norte-americano onde as mulheres não se apoiam mutuamente. É verdade que há muitas mulheres que se apoiam entre si e, sem dúvida, já houve mudanças significativas. Mas também há mulheres que continuam a internalizar o patriarcado e acabam por agir contra si mesmas — votando contra os seus próprios interesses e contra a sua autonomia corporal neste país", lamenta.
Julian Fellowes acrescenta que "sempre houve mulheres muito fortes". "Acho que uma das dificuldades para os Estados Unidos é o facto de serem, essencialmente, uma cultura de pioneiros. No início, havia muitos homens a cortar árvores, a construir cabanas, a desbravar território. E a ideia de mulheres politicamente poderosas não estava enraizada aqui — ao contrário da Europa, onde essa presença já existia há muito tempo. Havia rainhas, imperatrizes e outras figuras de grande influência. Basta pensar em alguém como Catarina, a Grande, da Rússia, ou na Imperatriz da Áustria — mulheres com poder político real, legítimo, não apenas amantes ou figuras decorativas. Eram governantes plenamente reconhecidas", recorda.
"Acho que isso fez com que a Europa tivesse uma resposta mais natural à ideia da mulher politicamente poderosa. Hoje em dia, vemos mulheres a liderar partidos políticos, a ocupar cargos de presidente ou primeira-ministra em quase todos os países europeus — certamente no Reino Unido —, algo que ainda não se concretizou verdadeiramente na América. E penso que esta é uma das lições que a história nos ensina: pode haver bons ou maus governantes, mas isso pouco tem a ver com o seu sexo", remata.

Para Julian Fellowes, o "período da história norte-americana" que a série retrata "não é muito conhecido". "No geral, os americanos lidam muito mais com o drama contemporâneo do que com o drama imperial da sua própria história (...) E acho que é por isso que 'The Gilded Age' parece diferente. Há a agitação, os lacaios e tudo mais, e pensas: 'Ah, lá vamos nós'. E, então, começas a perceber que estas pessoas não tinham as respostas às situações que os seus homólogos europeus teriam. E assim entramos em um novo território para o drama de época", remata.
O elenco da terceira temporada conta com Carrie Coon, Christine Baranski, Cynthia Nixon, Morgan Spector, Louisa Jacobson, Denée Benton, Taissa Farmiga, Harry Richardson, Blake Ritson, Ben Ahlers, Ashlie Atkinson, Dylan Baker, Kate Baldwin, entre outros.
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