O álbum, com a etiqueta da Uau, é constituído por 12 temas, um deles assinado pela fadista, pela primeira vez, em música e letra, “Eu gosto de ti (canção para a Mafalda)”, que é um dedicatória à sua filha de dois anos, que inspirou também outro fado, “Nesta noite”, música e letra de Paulo Valentim, que já assinou outros temas para a fadista, como “Segredo”, e a acompanhou à guitarra.
“O Paulo começou a compô-lo em Macau, onde esteve, e quando a veio conhecer ofereceu-lho, e eu achei que fazia todo o sentido inclui-lo neste CD”, disse à Lusa Katia Guerreiro.
O álbum surge seis anos depois do último álbum de inéditos da fadista, período durante o qual editou “Fados do Fado”, e o CD/DVD do seu espetáculo em 2012, no Olympia, em Paris.
Trata-se de “uma viragem porque tenho músicos novos a trabalhar comigo, e que se dedicaram de alam e coração a este novo projeto, porque decidi desta vez não tomar as rédeas sozinha e ter um produtor musical [Tiago Bettencourt] ao meu lado, desresponsabilizando-me de grande parte das decisões em relação ao disco e à parte musical”, disse a fadista ressalvando que o repertório foi escolhido por si.
“Por outro lado, deixa-me revelar um pouco mais de mim, de uma forma mais leve, mais descontraidamente, do que acontecia anteriormente, acrescentou.
A fadista referiu os cerca de 15 anos de carreira que lhe ensinaram muito. “Há um conceito musical composto de várias experiências e convivências musicais”, realçou.
Amália Rodrigues continua a ser “uma matriz”, reconheceu a fadista que, neste álbum, recria “À Janela do meu peito”, de Alberto Janes, do repertório da diva, e ainda “Quero Cantar para a Lua”, de autoria de Amália, poema musicado por Pedro Castro, um dos músicos que a acompanha.
A fadista realçou a importância dos músicos nesta nova faceta. São eles, na guitarra portuguesa, Pedro Castro e Luís Guerreiro, na viola, João Mário Veiga, que a acompanha desde a sua estreia nas lides fadistas, e, na viola baixo, Francisco Gaspar, que apresentou como “um jovem talento, discípulo de Joel Pina”, e que foi buscar ao jazz para o trazer para fado - “e parece que muito bem, pois é excelente e todos aprendemos com ele”, disse.
O alinhamento inclui uma letra de Rita Ferro, “Mentiras”, que Pedro Castro musicou, um tema de autoria, letra e música, de Paulo de Carvalho, “9 Amores”, uma homenagem aos Açores, arquipélago onde a fadista, nascida na África do Sul, viveu.
Dos Açores há ainda uma referência ao poeta Rui Machado, seu professor de Filosofia que reencontrou, e de quem canta “Fado dos Contrários”, escrito propositadamente para Katia Guerreiro, e que canta no fado Triplicado, de José Marques.
“Disse-te ao mar que te amava”, de José Fialho Gouveia, no fado Franklin de Sextilhas, foi um dos destaques da fadista que revelou ter sido ela quem desafiou o jornalista a escrever e que conta fazer um álbum apenas com poemas de Fialho Gouveia.
“Tenho uma gaveta cheia de poemas do José Fialho [Gouveia] e esse projeto já esteve em marcha, era para ser feito com o maestro Pedro Osório, que entretanto foi à sua vida”, disse a fadista referindo-se à morte do compositor, em 2012.
Do poeta Vasco Graça Moura, Katia Guerreiro interpreta dois poemas, “Até ao Fim” e “As Quatro Operações”, musicados respetivamente por Tiago Bettencourt e por Pedro Castro com Bettencourt.
Outro poeta que escolheu, e que já tinha interpretado, é de Sophia de Mello Breyner Andresen, de quem gravou “Sei que estou só”, que Bettencourt musicou.
Entre as surpresas do álbum, Katia Guerreiro referiu Samuel Úria que escreveu para si “Fado que nos fez”, que interpreta no fado Versículo, de Alfredo Marceneiro.
A fadista afirmou que vai apresentar este disco apenas no circuito “das FNAC”, prevendo para a primavera os primeiros concertos em palco.
"Dou tempo ao tempo. Quero que as pessoas conheçam primeiro o disco. É muito mais interessante apresentar os temas com as pessoas já a conhecê-los", rematou.
@Lusa
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