
"Adolescência" e "Estado Elétrico" foram lançados com um dia de diferença na Netflix e tudo os separa, incluindo os resultados.
A primeira conta a história de como a realidade de uma família é virada do avesso quando Jamie Miller (Owen Cooper), de 13 anos, é detido pelo homicídio de uma adolescente que frequenta a mesma escola que ele. O segundo é uma aventura de ficção científica para toda a família que cruza "Guardiões da Galáxia", "Stranger Things" e muitas outras coisas, num caldeirão assumido de cultura pop.
A minissérie britânica de quatro episódios filmados em plano contínuo foi produzida por uma fração do orçamento do filme, 320 milhões de dólares, o mais caro da história da Netflix, com Anthony e Joe Russo, os realizadores dos filmes da Marvel. E o elenco cujo ator mais conhecido é Stephen Graham (principalmente para os fãs dos filmes "This Is England" ou "Ponto de Ebulição", ou da série "Boardwalk Empire"), também co-criador e argumentista, não podia contrastar mais com as presenças de Millie Bobby Brown e Chris Pratt, dois dos atores mais "gostáveis" do cinema e da televisão dos últimos anos, com milhões de seguidores nas redes sociais.
"Adolscência" tem recolhido elogios praticamente unânimes, daqueles que se veem uma vez por ano. E tornou-se um fenómeno cultural, debatido até no Parlamento Britânico, o que não acontecia desde outra minissérie britânica, "Baby Rainder", lançada praticamente pela mesma altura no ano passado pela Netflix.

Já "Estado Elétrico" foi arrasado pelos críticos (15% de cotação positiva no Rotten Tomatoes, uma aprovação que sobe para uns poucos entusiasmantes 70% entre o público) e desvaneceu-se rapidamente o impacto da grande campanha mediática de lançamento dos dois lados do Atlântico. E os irmãos Russo deram-se ao luxo de dizer que não faz sentido investir tanto dinheiro num filme e "já estão noutra": em Londres para o início da rodagem de "Vingadores: Doomsday".
Após duas semanas, os números traçam um balanço claro: a Netflix tem, ao mesmo tempo, um dos maiores sucessos e maiores fracassos da sua história.
Lançada a 13 de março e nos primeiros quatro dias, "Adolescência" registou 24,3 milhões de visualizações, segundo os dados oficias da plataforma. Na semana a seguir, 17 a 23 de março, a primeira completa, disparou para 42 milhões de visualizações, um aumento de 72,8%, sinal do interesse dos subscritores da plataforma. Já é a minissérie mais vista de sempre no serviço nas duas primeiras semanas e tem potencial para crescer mais nas audiências.
Lançado a 14 de março, "Estado Elétrico" chegou às 25,2 milhões de visualizações globais nos primeiros três dias e liderou o ranking dos filmes mais vistos em dezenas de países, mas com valores considerados baixo para uma produção da sua dimensão: com orçamentos muito menores, os recentes "De Volta à Ação", com Jamie Foxx e Cameron Diaz, e "Bagagem de Mão", com Taron Egerton e Jason Bateman, saíram-se melhor, com estreias respetivamente de 46,8 milhões e 42 milhões de visualizações. Até "A Donzela", liderado por Millie Bobby Brown e lançado há um ano Damsel, arrancou com 35,3 milhões de visualizações e entrou no Top 10 dos filmes originais em inglês mais vistos de sempre, com 138 milhões.

Noutro sinal do que não estava bem, ainda sem uma semana completa de lançamento, a revista Forbes revelava que a nova super produção já tinha caído para o terceiro lugar na lista dos 10 melhores da Netflix nos EUA, atrás de "Twister: Caught in the Storm", um documentário de 69 minutos sobre tornados, e até de "Kraven, o Caçador", um dos grandes flops dos cinemas em 2024.
Pior foi a primeira semana completa: manteve o primeiro lugar nos filmes mais vistos, mas em vez de subir, registou 22,5 milhões de visualizações, confirmando o desinteresse dos subscritores, provavelmente a verem "Adolescência". E no maior mercado, os EUA, já está em quarto lugar nos filmes mais vistos.
Com 47,7 milhões de visualizações em duas semanas, o filme original mais caro na história da Netflix deverá falhar a entrada no Top 10 dos mais vistos de sempre, que contabiliza os primeiros 91 dias, que fecha com "Vamos Ser Heróis" (2020), com 137,3 milhões de visualizações.
Já "Adolescência", com 66,3 milhões de visualizações, continua a dominar as atenções e deverá muito em breve entrar no Top 10 das séries originais em inglês mais vistas, destronando as 93,8 milhões de visualizações da segunda temporada de "Bridgerton".
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