A série, que ganhou oito Emmys e dois Globos de Ouro, foi uma das produções obrigadas a lidar com a repentina perda do seu protagonista na sequência de um escândalo sexual.

Uma situação semelhante à de "House of Cards", que na última temporada se concentrou na personagem de Robin Wright, Claire Underwood, após a acusação de agressão sexual contra Kevin Spacey, que forçou a sua saída da série, assim como de "Roseanne", que mudou de nome para "The Conners" depois de um tweet racista de Roseanne Barr.

Mas para "Transparent", a saída do ator Jeffrey Tambor, face a acusações de assédio de vários atores e elementos da produção, significava que uma nova temporada estava descartada, destacou a criadora Jill Soloway.

Para encerrar a série, Soloway decidiu escrever um episódio final de 100 minutos que começa com a morte, fora das câmaras, de Maura Pfefferman, a mulher transgénero de 70 anos interpretada por Tambor.

Jeffrey Tambor (Maura Pfefferman em Transparent)
Jeffrey Tambor (Maura Pfefferman em Transparent)

"O musical é nossa oportunidade de dizer adeus, mas também de fazer a transição para uma nova forma", explicou Soloway.

Jill Soloway disse que o formato, no qual sua irmã Faith compôs as canções para o episódio, oferecia uma "forma alegre de lidar com a dor da perda de Maura", ao mesmo tempo que "nos recordava que a vida é sobre encontrar a alegria".

O resultado é uma mistura esotérica, com o recurso típico de explorar os relacionamentos da série combinado com um toque de "La La Land: Melodia de Amor" para abordar temas sérios, do luto ao Holocausto.

Depois de uma quarta temporada em Israel, o episódio final é uma oportunidade para novas tensões e discussões entre a família de Maura, incluindo a ex-mulher neurótica Shelly e os seus filhos Josh, Sarah e Ali (agora Ari).

Apesar da ausência de Maura, a comunidade trans permanece bem representada, especialmente com a personagem Divina, interpretada pela atriz transgénero Alexandra Billings.

Embora "Transparent" não tenha sido o primeiro programa de televisão com personagens e atores trans, a série deu à comunidade mais visibilidade do que nunca, principalmente porque desenvolveu personagens com nuances e complexidades, sem as reduzir perpetuamente às suas identidades sexuais, como aconteceu com outras produções.

Transparent
Transparent

Em poucos anos, as pessoas transgénero tornaram-se uma parte muito mais reconhecida da comunidade LGBTQ. Na televisão, séries como "Pose" permitiram o avanço da tendência.

"O mundo mudou rapidamente", afirma Soloway, cinco anos depois da estreia do programa na Amazon.

Mas Judith Light, que interpreta Shelly na série, alertou que, apesar de "a mudança estar a chegar", muitas pessoas trans nos Estados Unidos - especialmente afro-americanos - ainda sofrem com o assédio e a violência.

A atriz disse que vai levar mais tempo para que a sociedade consiga lidar com uma verdadeira "transformação" sobre o tema.