“O primeiro efeito na atividade da Palmilha Dentada com a pandemia foi o cancelamento até junho do projeto ‘Cabaret Infinito’, no Pérola Negra, um ciclo de café teatro iniciado em novembro de 2019 e que estava previsto para um ano, com receitas exclusivamente de bilheteira”, disse hoje à Lusa, em entrevista por escrito, Ricardo Alves, dirigente do Palmilha Dentada, uma associação sem fins lucrativos, criada em agosto de 2001, e que ganhou o prémio Sapatilha Prateada em 2011.
Segundo Ricardo Alves, as perdas estimadas totais do cancelamento de "Cabaret Infinito", nestes quatro meses, são da ordem dos “18.400 euros” e o corte envolve “12 pessoas”, entre técnicos, atores, produtores e criadores.
O responsável da companhia acrescenta que a estrutura enviou à Fundação Calouste Gulbenkian uma candidatura coletiva para cobrir as perdas das pessoas envolvidas.
Ricardo Alves assume que está preocupado com o futuro do setor, porque o público pode ter “medo de ajuntamentos nos primeiros tempos do regresso à normalidade”.
As condicionantes financeiras, que serão sentidas por parte da sociedade portuguesa, e os reagendamentos de projetos com o Teatro Nacional São João e com a Câmara Municipal do Porto, previstos para maio e julho, são outras preocupações para a Palmilha Dentada.
Segundo Ricardo Alves, o problema dos reagendamentos é “grave”, porque condiciona a criação de novos trabalhos no segundo semestre de 2020.
“O planeamento do segundo semestre de atividade do Teatro da Palmilha Dentada, apesar de estar a ser pensado, está no entanto demasiado dependente do comportamento da pandemia”, assume.
O plano para o futuro da Palmilha Dentada é não obrigar o pagamento do bilhete a quem pretenda assistir aos espetáculos, mas sim convidar o público, que em consciência, pague o que puder pagar.
“O teatro é um bem de primeira necessidade do qual ninguém deve ser privado por questões financeiras”, afirmou.
Esta semana, na terça-feira, dia 7 de abril, um conjunto de dezenas de promotores e agentes culturais escreveu ao Governo e ao parlamento a pedir uma linha de crédito específica para o setor e alterações ao decreto-lei que regula os adiamentos de espetáculos.
Numa carta subscrita por um coletivo de mais de 80 agentes e produtores, a maioria dos quais também presente em várias outras posições a apelar à defesa dos seus direitos junto de autarquias e dos demais poderes públicos, é pedido ao Governo e aos partidos políticos que se defina, “sem tibiezas ou margem para dúvidas, que, nos casos de reagendamento [de espetáculos] não haverá lugar à restituição do preço dos bilhetes, o que só se infere do diploma pela via interpretativa”.
Na quarta-feira, a Assembleia da República aprovou duas propostas incluídas num projeto de lei do Bloco de Esquerda (BE) para o setor da Cultura, que preveem o pagamento, por entidades públicas, de espetáculos cancelados como se se tivessem realizado.
A aprovação diz respeito a duas alterações de um artigo do decreto-lei de 26 de março, a que os agentes e produtores se referem, e que regula os espetáculos cancelados ou adiados.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da COVID-19, já infetou mais de 1,5 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 90 mil.
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 409 mortes, mais 29 do que na véspera (+7,6%), e 13.956 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 815 em relação a quarta-feira (+6,2%).
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