
Esta terça-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da França classificou como "atos de terrorismo" a violência dos colonos israelitas na Cisjordânia, após a morte de um ativista que ajudou na realização de "No Other Land", o mais recente vencedor do Óscar de Melhor Documentário.
"A França condena com a maior firmeza este assassinato, assim como todos os atos violentos deliberados perpetrados por colonos extremistas contra a população palestinia, que se multiplicam na Cisjordânia", declarou o porta-voz. "Esses atos violentos são atos de terrorismo".
Esta é a primeira vez que o Ministériodos Negócios Estrangeiros da França usa a palavra "terrorismo" para se referir aos atos de colonos israelenses.
"Os colonos provocaram mais de 30 mortes desde o início de 2022. As autoridades israelitas devem assumir a sua responsabilidade e punir imediatamente os autores destes atos violentos, que continuam com total impunidade, e proteger os civis palestinianos", acrescentou o Ministério.
A Autoridade Palestina denunciou que o ativista Awdah Muhamad Hathaleen foi assassinado a tiro por colonos na segunda-feira num ataque contra a aldeia de Um al Kher, perto de Hebron, no sul da Cisjordânia.
A polícia israelita informou que havia uma investigação em andamento por um "incidente", sem confirmar que houve um assassinato, e acrescentou que um cidadão israelita foi detido. A imprensa isralieta diz que foi colocado em prisão domiciliária enquanto decorre a investigação.
Yuval Abraham, jornalista e realizador israelita que ganhou o Óscar na cerimónia de 2 de março com o realizador palestiniano Basel Adra, disse que Awdah Muhamad Hathaleen foi alvejado no peito por um colono identificado por locais como Yinon Levi, que faz parte de um grupo sancionado pela União Europeia e o Reino Unido por causa das suas ações de violência.
A publicação nas redes sociais partilha imagens de Yinon Levi a brandir descontroladamente uma arma, mas não se sabe se as imagens estão relacionadas com o que aconteceu ao ativista palestiniano e professor de inglês, pai de três filhos, que além de ter ajudado na rodagem de "No Other Land", era conhecido pelo apoio prestado a jornalistas que visitavam a zona.
O realizador Basel Adra também lamentou a morte.
"Nem consigo acreditar. O meu querido amigo Awdah foi massacrado esta noite. Estava à frente do centro comunitário da sua aldeia quando um colono disparou uma bala que perfurou o seu peito e tirou-lhe a vida. É assim que Israel nos apaga — uma vida de cada vez", escreveu nas redes sociais com uma fotografia dos dois em Roma.

"No Other Land" narra o deslocamento forçado de palestinianos por tropas israelitas e colonos em Masafer Yatta — uma área na Cisjordânia que Israel declarou zona militar restrita na década de 1980. Retrata eventos como escavadoras recorrentemente a demolir casas, escolas, poços de água e estradas, bem como as provocações de colonos israelitas contra moradores palestinianos — incluindo aquelas que se transformam em violência.
Ocupada por Israel desde 1967, o território abriga cerca de três milhões de palestinianos, bem como quase meio milhão de israelitas que vivem em colonatos que são ilegais sob a lei internacional.
Grupos de direitos humanos dizem que desde o início da guerra entre Israel e o movimento Hamas na Faixa de Gaza — um território palestiniano separado — houve um aumento nos ataques de colonos israelitas na Cisjordânia.
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