O percurso intitula-se "As mulheres na Coleção Moderna. De Sonia Delaunay a Ângela Ferreira 1916-2018", tem curadoria de Patrícia Rosas, e vai destacar trabalhos de pintura, desenho, ilustração, têxteis, fotografia, vídeo, escultura e instalação, de uma seleção de criadoras, indicou à agência Lusa fonte da fundação.
Pensado cronologicamente, de 1916 a 2018, e por tipologia, o percurso acompanha os três pisos de exposição da Coleção Moderna, com as obras em papel a serem destacadas nas primeiras décadas do século XX, segundo a curadora.
Mily Possoz e Ofélia Marques estão representadas com desenhos e gravuras em que o tema das crianças e da figura feminina sobressai, enquanto Maria Antónia Siza, tem uma sala dedicada aos seus trabalhos.
Nesta década, quando a abstração começava a ganhar força, Paula Rego produzia pinturas de inspiração surrealista, através do uso da colagem, "afastando-se nominalmente da abstração, mas criticando fortemente o regime salazarista e franquista nas suas pinturas", segundo um texto da Gulbenkian sobre este novo percurso.
As mulheres portuguesas puderam finalmente votar, nas eleições legislativas de 1969 - desde que soubessem ler e escrever -, mas as limitações dos seus direitos, até um ano depois do 25 de Abril de 1974, passavam por não poderem sair do país sem o consentimento dos maridos, abrir conta bancária ou tomar contracetivos.
A Revolução dos Cravos incentivou o regresso de muitos artistas a Portugal, depois de se terem autoexilado nos principais centros artísticos europeus, Londres e Paris.
Ana Hatherly fez parte deste grupo e, no seu retorno ao país, documenta a Revolução, rasgando os cartazes das fachadas das ruas de Lisboa, e com um gesto forte, de destruição, preconiza também um corte urgente com um passado ditatorial.
Os “ambientes” de Ana Vieira – as primeiras criações instalativas de uma mulher artista em Portugal –, ou o trabalho em fotografia, em série, de Helena Almeida, bem como a poesia espacial de Salette Tavares surgem nos anos de 1970, sendo todas estas obras inovadoras para a época, em anos de transição no país.
A produção de escultura em pedra maciça e néon de Clara Menéres, de cariz conceptual, marca a década de 1980, num regresso à monumentalidade da tradição escultórica.
O vídeo e a fotografia tornam-se meios de produção mais próximos também das mulheres artistas a partir dos anos de 1990, embora estas se dediquem igualmente, à pintura, à escultura e ao desenho.
Susanne Themlitz, Cecília Costa, Susana Gaudêncio ou até mesmo Ângela Ferreira, artista moçambicana que trabalha o impacto do colonialismo e pós-colonialismo na sociedade contemporânea, veiculam esta diversidade que marca as primeiras décadas do século XXI.
A mostra da Gulbenkian faz um percurso através das obras das mulheres artistas, mas também através das realidades do último século que essas obras refletem.
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