
O romancista peruano-espanhol Mario Vargas Llosa morreu este domingo, aos 89 anos, na sua casa em Lima, onde vivia desde 2022, informaram os seus filhos nas redes sociais.
“Com profunda dor, tornamos público que o nosso pai, Mario Vargas Llosa, faleceu hoje em Lima, rodeado pela sua família e em paz”, escreveu o filho Álvaro Vargas Llosa na sua conta da rede social X (antigo Twitter).
Na mensagem, também replicada pela sua filha Morgana Vargas Llosa, os descendentes do escritor sublinharam que, tornaram pública a morte do seu pai “rodeado pela sua família e em paz”.
“A sua partida entristecerá os seus familiares, os seus amigos e os seus leitores em todo o mundo, mas esperamos que encontrem consolo, como nós, no facto de ter tido uma vida longa, múltipla e frutífera, e de deixar atrás de si uma obra que lhe sobreviverá”, lê-se na mensagem.
Ainda de acordo com a mensagem, nas próximas horas e dias, as cerimónias fúnebres serão realizadas "de acordo com as suas instruções", pelo que "não haverá cerimónia pública".
"A nossa mãe, os nossos filhos e nós próprios confiamos que teremos espaço e privacidade para nos despedirmos dele em família e na companhia dos seus amigos mais próximos. Os seus desafios, como ele desejava, serão cremados", lê-se na mensagem.
O Peru declarou luto nacional pelo seu Prémio Nobel de Literatura de 2010 na segunda-feira, com bandeiras hasteadas a meio mastro em áreas do Estado.
A presidente peruana, Dina Boluarte, lamentou o falecimento e afirmou que "o seu génio intelectual e a sua vastíssima obra permanecerão como um legado imperecível para as futuras gerações".
O presidente da Guatemala, Bernardo Arévalo, descreveu Vargas Llosa como "mestre da palavra, grande cronista da Hispanoamérica e intérprete agudo das suas rotas e destinos". Acrescentou que a "sua profusa e profunda obra literária permanece como um enorme legado para a América Latina e o mundo".
Rumores sobre a deterioração da saúde do escritor tinham-se espalhado nos últimos meses, durante os quais viveu distante dos holofotes. Em outubro, Álvaro referiu que estava "prestes a completar 90 anos, idade em que é preciso reduzir um pouco a intensidade das atividades".
Vargas Llosa viveu esta última etapa sob os cuidados da sua filha Morgana e de Patricia Vargas Llosa, a sua prima e ex-esposa durante 50 anos (1965 a 2015), quando começou uma mediática relação com a "rainha do jet set espanhol" Isabel Presley, que durou até ao fim de 2022.
Acompanhado pelo filho Álvaro, o escritor dedicou-se em Lima a relembrar os seus passos, visitando os locais que o inspiraram para criar alguns dos seus romances emblemáticos.
A saúde do escritor foi afetada consideravelmente a partir de 2023, após ter sido hospitalizado em junho por contrair COVID-19 pela segunda vez, quando vivia na Espanha, país do qual recebeu a nacionalidade em 1993. Em abril de 2022, fora contagiado pela primeira vez.
Festejou o 89.º aniversário a 28 de março e alguns dias antes, Álvaro partilhou três fotos com o escritor em lugares de Lima onde escreveu os seus dois últimos romances, "Cinco Esquinas" (2016) e "Dedico-lhe o Meu Silêncio (2023).
Nascido numa família peruana de classe média, Vargas Llosa foi um dos grandes nomes do "boom" literário latino-americano das décadas de 1960 e 1970, juntamente com o colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014), o argentino Julio Cortázar (1914-1984) e os mexicanos Carlos Fuentes (1928-2012) e Juan Rulfo (1917-1986).
A sua carreira descolou em 1959, quando publicou "Os Chefes", o seu primeiro livro com seis contos sobre desafios, provações e morte.
Vargas Llosa foi aclamado pela sua descrição detalhada da realidade social em obras como "A Cidade e os Cães" (1963) e "Conversa n' A Catedral" (1969), que consolidou o seu prestígio.
Mas foi criticado por alguns intelectuais sul-americanos pelas suas posições conservadoras.
As obras de Vargas Llosa foram traduzidas para cerca de 30 idiomas.
Francófilo, viveu em Paris durante vários anos, tornando-se em 2016 o primeiro autor estrangeiro a integrar vivo a prestigiada colecção de referência da literatura mundial, a Biblioteca La Pléiade.
Foi nomeado para os "Imortais" da Academia Francesa em 2021 e também para o prémios Cervantes e Príncipe de Astúrias das Letras.
Disse que queria continuar a escrever até ao seu último dia de vida e cumpriu com a publicação de obras como "O Herói Discreto" (2013) ou "Tempos Duros" (2020), sobre a agitada história recente da Guatemala.
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