Questionado pela Lusa sobre o que fica, afinal, depois de Portugal ter, pela primeira vez, organizado o Festival Eurovisão da Canção, Jorge Mangorrinha realçou 12 pontos “de ordem sociocultural e de ordem económica, desde a perceção dos públicos e da população residente aos organizacionais e empresariais”.
Prestes a fechar-se o ciclo, com a final do concurso agendada para hoje, Mangorrinha defende, como um dos possíveis ganhos, a criação, em Lisboa, do “Jardim Amar Pelos Dois”.
Este jardim simbolizaria, no espaço público, os temas das duas canções portuguesas: “A que trouxe a Eurovisão a Portugal [‘Amar Pelos Dois’] e a que representou [Portugal] em Lisboa [‘O Jardim’], e celebraria todas as representações portuguesas na Eurovisão, através de ‘storytelling’”.
A juntar a esta ideia, destacou, como segundo ponto, o “benefício intangível na melhoria do orgulho público”, perante a realização portuguesa de um evento internacional no país, “amplamente promocional, e face à projeção internacional da capacidade de fazer”.
A este aspeto, o investigador associa, como terceiro ponto, a demonstração de um modelo de organização do evento “mais racional”, onde se conjuga a cultura com outras dimensões do evento, como a urbana, a tecnológica, a convivial e festiva, a política, a ritualística, a mediática e a turística, mas também reitera, como ponto seguinte, a importância do “papel pedagógico” da programação musical da RTP e o “alargamento cultural dos seus horizontes”.
Mangorrinha lembra, como quinto ponto, que os impactos de um grande megaevento “se prolongam durante muitos anos, como se confirma com o benefício para este evento eurovisivo da realização da Expo’98, há 20 anos, e da construção das suas infraestruturas e equipamentos, porque a existência do Altice Arena ajudou a reduzir o investimento na organização eurovisiva”.
A consolidação da marca de Lisboa, como “cidade de eventos e não apenas uma cidade com eventos”, é um dos traços distintivos que decorrem do passado recente e que é reforçado com esta realização, segundo o investigador, como sexto aspeto a reter.
Tal como o “reforço da diversidade turística do destino e das novas tendências de procura”, potenciando a oferta e os novos visitantes que fizeram estada nestes dias na capital portuguesa e que procuram “dimensões múltiplas de vivência, em alguns momentos relacionadas com a fantasia ou a transcendência”.
No entanto, também, sustenta, se vê reforçada a promoção do país, através dos “Postais de Portugal” gravados pelas diferentes delegações, tendo em vista “o regresso dos atuais visitantes e da vinda de outros motivados pela transmissão à escala universal”.
Mangorrinha destaca, ainda, um ponto relacionado com a perceção por parte das empresas portuguesas da importância em se associarem a eventos, de forma a ganharem destaque no mercado.
E um outro ponto, mais relacionado com os agentes públicos, sublinha a importância de “um amplo espaço de debate em torno da natureza e das implicações das políticas culturais e urbanas que se apoiam neste género de realizações”.
A excecionalidade e o mediatismo do evento poderão exercer influência sobre o alargamento da sua especificidade a públicos mais abrangentes, refletindo-se cultural e economicamente, pelo que Jorge Mangorrinha defende, como último ponto, “mas não menos importante no contexto dos festivais”, que “uma canção deve ser sempre vista como valor estratégico integrado”.
Jorge Mangorrinha é doutorado e pós-doutorado nas áreas de Urbanismo e Turismo e é autor, entre outros, de um estudo sobre como Lisboa se deveria preparar para receber o festival.
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