Estreada no último fim de semana no Teatro Municipal do Porto, a peça tem criação e direção de Lia Rodrigues, dramaturgia de Silvia Soter, e Amália Lima como assistente de direção e criação, de acordo com a Culturgest.
No espetáculo, a criadora levanta a questão de como fazer face a "tantas catástrofes e barbáries que todos os dias nos assombram e emudecem, neste contexto de drásticas mudanças climáticas que escurecem o futuro", de acordo com um texto de Lia Rodrigues.
A coreógrafa evoca o mito do fim do mundo, relatado pelo xamã Davi Kopenawa, do povo índio Yanomami, que diz que, "rompida a harmonia da vida no universo, o céu – entendido por aquilo que está acima de nós – desaba sobre todos os que estão abaixo e não apenas sobre os povos das florestas".
Respondendo à questão sobre o que fazer perante estas mudanças, Lia Rodrigues decidiu dançar: "Nós dançamos como uma oferenda e como um tributo, para não desaparecer, para durar e para apodrecer, para mover o ar e para se expandir, para sonhar e para visitar lugares sombrios, para virar vagalume, para sermos fracos e para resistir".
"Nós dançamos para encontrar um jeito de sobreviver neste mundo virado de cabeça para baixo. Dançar para segurar o céu. É o que podemos fazer. Para que o céu não caia… dançamos", sustenta, no mesmo texto.
O espetáculo "Para que o céu não caia" foi criado e é dançado em estreita colaboração com Amália Lima, Carolina Mattos, Clara Cavalcante, Felipe Vian, Francisco Thiago Cavalcanti, Gabriele Nascimento, Glaciel Farias, Leonardo Nunes, Luana Bezerra, Maruan Sipert e Valentina Fittipaldi.
Lia Rodrigues, nascida no Brasil, estudou dança clássica em São Paulo e fundou o Grupo Andança em 1977.
De 1980 a 1982, mudou-se para França e dançou na Companhia Maguy Marin. Regressou depois ao Brasil, e instalou-se no Rio de Janeiro onde fundou a Lia Rodrigues Companhia de Danças.
Criou, entre outras peças, "Gineceu" (1990), "Catar" (1992), "Resta um" (1997), "Aquilo de que somos feitos" (2000), "Dois e um dois" (2001), "Formas" (2002), "Encarnado" (2005), "Hymnen" (2007), "Chantier poetique" (2008), e "Pororoca" (2009).
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