A banda, que mistura jazz e rock e aposta na improvisação e experimentação, é composta por João Guimarães (saxofone alto e sintetizadores), Marcos Cavaleiro (bateria) e Miguel Ramos (baixo elétrico), tendo gravado o disco de estreia em três locais: na associação Sonoscopia, no estúdio de um amigo em Amarante e no Centro Comercial Stop.
“Muitas vezes as bandas vão para estúdio com os temas acabadinhos de fazer, mas é como se fosse uma fruta muito verde. Só ao fim de dez ou 15 concertos é que podemos ter aquela sensação de as músicas ganharem forma, músculo, definição e direção. (…) Os concertos realmente dão uma consistência aos projetos que nós ganhámos, foi bom para nós”, explicou Miguel Ramos, que vê cada concerto como “uma lição”, mesmo que a banda insista em ter “zonas de improvisação muito livres”.
A edição de “Hitchpop”, produzido por Manuel dos Reis - uma “espécie de quarto elemento” - e masterizado por Pedro Augusto, é “mista”, uma vez que é uma “edição de autor” que engloba um apoio da Fundação GDA e é lançada com a chancela da editora Turbina.
Vários temas gravados ficaram de fora de “Hitchpop”, porque o grupo vive “muito do momento musical” e da improvisação gerada entre os três.
“O que nos seduz é um bocado a terra do nada, uma folha em branco sobre a qual tocamos. Há improvisações mais consistentes e dignas de serem apresentadas em disco, e outras que ouvimos e se calhar deixamos para nós”, acrescentou.
Na origem do projeto está a vontade de Miguel Ramos de “voltar a tocar com o João Guimarães”, a que se juntou Marcos Cavaleiro para uma sessão em estúdio que “ficou registada e foi fulcral no percurso”, por ter agradado “a primeira sensação sonora e os três timbres”.
Nesse ponto, o trio percebeu que tinha “qualquer coisa interessante a nível sonoro, e a primeira gravação até ia ser usada para um primeiro disco”, mas o mesmo não se concretizou.
A olhar para a frente, o músico diz que “há ainda muito por explorar” naquele que é “um espaço especial” nas carreiras dos três, todos envolvidos em outros projetos musicais, e no qual já conseguiram “criar um som”.
“Por termos carreiras tão distintas, eu do rock e pop, eles mais do jazz, e o João ainda do lado experimental, estamos a cruzar três mundos e a criar um som. Esse é o grande desafio e o que me dá pica de explorar a banda, chegar a esse som que temos na cabeça”, resumiu.
Ramos vê nos três “qualquer coisa nos timbres e no som” em que “não faz lembrar nada” que tenha encontrado em outros grupos musicais, o que revela, referiu, uma “riqueza sonora e tímbrica”.
Depois de uma “boa receção” do disco na apresentação no Círculo Católico de Operários do Porto, o baixista revelou um “orgulho bom” no primeiro trabalho de estúdio do trio.
“Sinto que é um disco bastante verdadeiro. Há coisas frágeis e outras mais assumidas, mas no fundo é muito verdadeiro, com a música que conseguimos fazer e conseguimos defender”, apontou.
O primeiro ‘single’ é “Alcalino”, mas o grupo quer “fazer outro videoclipe e também divulgar algumas imagens de concertos, como na Casa da Música ou o de apresentação do disco”.
Para já, a banda tem procurado, de forma independente, marcar datas de concertos para o próximo ano, até porque há “muita vontade de tocar e defender o disco” em palco, onde “a energia de toda a gente acaba por jogar com a música que se está a fazer”.
Miguel Ramos nota ainda a maior adesão do público nacional à música instrumental, com os festivais de verão a incluírem “concertos instrumentais com muito público”.
“Acho que o público português está cada vez mais disponível para ouvir música instrumental”, considerou.
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