
Em declarações à agência Lusa, Lina_, que imaginou as novas músicas cantadas no "alto de uma montanha na Irlanda", disse que o objetivo não era fazer um álbum de fado, “mas sim encontrar pontos comuns entre a música irlandesa - o estilo antigo, ‘sean-nós’ -, e o fado, no seguimento do álbum ‘Burn’, que Maxwell fez com Lisa Gerrard.”
O primeiro tema do novo álbum, “Arde sem se Ver”, faz a ponte para o anterior álbum de Lina_, “Fado Camões”, saído no ano passado, totalmente dedicado ao poeta português.
Lina_ disse que este tema de abertura, “uma espécie de desconstrução da poesia de Camões, foi uma ideia de Amélia Muge”, outra parceira de "Terra Mãe".
Uma “desconstrução que cria novos espaços e novos sentimentos neste poema e que até nos guia por Camões”, disse Lina_.
Lina_ assina a letra e música de “Terra Mãe”, que dá título ao álbum, e ainda a música de “When are They Coming?”.
Segundo Lina_, o título escolhido, “Terra Mãe”, evoca “as paisagens de Portugal": "Quando ouvimos este álbum conseguimos associar as paisagens da Irlanda, que são lindíssimas, nomeadamente da costa marítima.”
Ao mesmo tempo, acrescentou, o tema “Terra Mãe”, o quinto no alinhamento, é aquele com que mais se identifica: “É um tema que vai às minhas raízes, à minha infância, o questionar-me sobre mim própria, sobre o que ando aqui a fazer. Explica bem quais são as minhas raízes."
Este tema, acrescenta Lina_, coincide “com o sentimento das culturas portuguesa e irlandesa", com "a saudade, que é uma palavra portuguesa, mas acaba por ser universal.”
“Terra Mãe” é apresentado hoje, em concerto, na abadia medieval de Malmesbury, “um lugar especial e mítico”, na região de Wiltshire, Inglaterra. A partir de sexta-feira, quando chega ao mercado, e ao longo do fim de semana, terá sessões de apresentação nas lojas Fnac Chiado e Colombo, em Lisboa, e no NorteShopping, no Porto.
O álbum é constituído por nove faixas, entre elas, “Requiem”, “A Flor da Romã” e “O Falcão na Corda Bamba”. “Não deixei de ser quem sou” (“The Person I Always Was”), o primeiro ‘single’ de “Terra Mãe” está disponível no YouTube.
“Requiem” surgiu da vontade da artista em “fazer uma música que tivesse uma ligação espiritual”. E decidiu criar uma frase em latim, “implet animum lumine solis” [“enche a alma de luz solar”, em tradução livre], que “é uma espécie de cura, um pedido, pedir ao sol para que ilumine a [sua] alma.”
“Imaginei esta música cantada no alto das montanhas da Irlanda, junto ao mar, como se fosse uma lavagem espiritual; é um mantra para mim”, afirmou Lina_ à Lusa.
“Todo este disco é mais espiritual, apesar de sair no verão, quando as pessoas pedem músicas mais alegres. Acaba por ser um álbum mais espiritual, de introspeção”, disse a intérprete referindo os temas “Milagres” e “Requiem” “são tudo músicas com uma grande carga emocional.”
O álbum “Terra Mãe” foi “uma oportunidade”, afirmou a artista que conheceu Jules Maxwell quando tocou com Lisa Gerrard, numa edição passada do MistyFest.
"Maxwell tinha curiosidade sobre o fado e encontrou pontos em comum [com a 'sean-nós'], nomeadamente a saudade, a melancolia, e outros temas que estamos muito habituados a ouvir no fado, e que ele assemelhou muito com este estilo antigo da Irlanda. Começámos a trabalhar a partir de casa, pois ainda estávamos nos últimos tempos da pandemia”, acrescentou, lembrando que este álbum foi gravado antes do “Fado Camões”.
Para Lina_, "Terra Mãe" constitui "uma afirmação" da sua capacidade de composição. "Foi um trabalho ao inverso”, compor antes de escolher as palavras. Até aqui, disse Lina_, “tinha feito música sempre a partir do poema, dar valor às palavras, o cuidado com até onde a melodia ia.”
A cantora e escritora de canções reconhece, nas suas composições, influências de músicos como Ryuichi Sakamoto e Paul McKenna.
Lina_ declarou que não gosta de “gravar músicas avulso”. “Gosto de fazer um álbum que tenha uma identidade e um fio condutor, e que haja um porquê, não apenas músicas de que eu gosto. Não é apenas isso.”
Com uma agenda internacional “muito preenchida”, Lina_ atuou recentemente em Split, na Croácia, e tem já previsto um novo disco, para setembro, numa parceria com o compositor e pianista espanhol Marco Mezquita, “O Fado”.
"É bastante trabalho, mas quando há vontade, tudo se faz”, reconheceu Lina_ à Lusa.
A cantora e compositora admitiu que se “envolve bastante” e gosta de fazer trabalhos em parceria, "conhecer outras influências e formas de fazer música, conhecer as tradições [musicais] de outros países, [trazê-las] para Portugal, apesar de ter muitos mais concertos fora do que no país” de origem.
“Não há nada que faça com esforço, e quando surge uma ideia, gosto de a pôr em prática, e é isso que tem acontecido”, concluiu a intérprete que garantiu já estar a pensar no próximo álbum a solo.
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