
"Devia ser ilegal fazer uma festa destas às seis e meia. Por outro lado, não há nada melhor na vida do que poder dançar a esta hora", confessou Luís Clara Gomes, mais conhecido como Moullinex, na Galeria Oval do MAAT, durante o primeiro de dois espetáculos nos quais estreou ao vivo a proposta de MXGPU, dupla que compõe com o colaborador habitual GPU Panic (DJ e produtor que também faz parte dos Salto).
Durante a tarde e a noite de sábado, o projeto que oficializa uma colaboração iniciada no álbum "Hypersex" (2017), de Moullinex, e que já passou por outros discos e palcos (dentro e fora de portas), levou uma aposta inédita ao museu lisboeta encostado ao Tejo. E nem a ameaça de chuva (que seria concretizada) demoveu um público guiado pela vontade de dançar a horas pouco habituais e de conhecer, diretamente na pista, novas canções do duo que editou já mais de uma dezena de temas enquanto MXGPU, desde 2021, e promete o primeiro longa-duração para breve.

Na atuação inicial, que o SAPO Mag acompanhou, foi visível a curiosidade dos espectadores que chegavam a um espaço sem palco à vista. Para onde dirigir o olhar? Um feixe de luz projetava o logo da dupla na parede ao fundo das escadas, uma pequena estrutura ao centro (que integrava teclados e sintetizadores, foi-se percebendo aos poucos) seria em breve ocupada pelo DJ, multi-instrumentista, compositor e fundador da editora Discotexas (Moullinex) e pelo cantor que deu voz a quase todas as canções da tarde (GPU Panic).
NOVAS POSSIBILIDADES
Pensada como um espetáculo que esbate fronteiras entre os artistas e o público, a estreia dos MXGPU encontrou no MAAT o cenário ideal: o duo era visível de qualquer ponto da sala, o som esteve à altura do desafio, a imersão não resultou em apertão e todos tiveram espaço para dançar. E todos parecem ter de facto dançado durante a quase hora e meia que abriu novas (e estimulantes) possibilidades à galeria do museu.

Para Moullinex, foi "um sonho tornado realidade com uma das melhores pessoas e um dos melhores públicos". "Só não é o melhor público porque o desta noite também é bonito", ressaltou entre muitos agradecimentos. Para quem o viu e ouviu, foi uma oportunidade de revisitar temas da dupla, como "See Me Burn", um dos primeiros a conduzir à hipnose entre sintetizadores envolventes e cordas dramáticas sampladas. Mas também foi uma ocasião para descobrir tantos ou mais inéditos que parecem alargar os horizontes da dupla.
Num alinhamento às vezes não muito distante de nomes como Moderat, Booka Shade ou Hot Chip, entre outras referências da eletrónica dançável dos últimos anos, também houve espaço para ecos da synth-pop da década de 80 (numa versão quase irreconhecível de "Smalltown Boy", clássico maior dos Bronski Beat) ou para saltar da tech house para arredores do electro e do hip-hop, já na reta final.

Pelo meio, deu-se a estreia da colaboração com uma voz convidada, Malou, brasileira radicada em Hamburgo que também subiu ao "palco". Na maioria dos outros momentos, o timbre dominante foi o de GPU Panic (Moullinex também cantou a espaços), tendencialmente melancólico mesmo quando o ritmo era mais duro (ou até raver) do que sereno.
Entre a serenidade e a explosão, o remate fez-se com "Luz", um dos temas mais bonitos e também dos poucos de Moullinex repescados para o espetáculo desta nova aventura, talvez por já contar com a voz de GPU Panic à nascença (no álbum "Requiem for Empathy", de 2021). Só que a festa não acabou aí: o público foi convidado para um DJ set do duo a decorrer a partir da meia-noite, num local lisboeta a revelar à saída aos interessados (todos os portadores de bilhete para os concertos teriam direito a entrada livre).
Visualmente, o foco da atuação esteve no laser de cores variáveis ininterruptamente projetado do teto para a dupla, assim como nas luzes em torno da estrutura com os artistas e os instrumentos. Eficaz para acompanhar a descarga de adrenalina, com alguns episódios especialmente frenéticos, embora este espetáculo talvez resultasse ainda mais imersivo se outras áreas da galeria também fossem alvo de atenção cénica. Em todo o caso, esta é uma experiência a celebrar, a lembrar e a repetir, e nem vai ser preciso esperar muito para encontrar outra depois da dose inaugural redobrada: os MXGPU atuam na Casa da Música, no Porto, já no dia 27. Más notícias para quem não tem bilhete: o concerto também já está esgotado. Mas a pista de dança de Moullinex e GPU Panic ainda parece estar só a aquecer...
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