Depois de dois álbuns através da RCA, de três temas no top 20 e de se tornar presença constante nas emissões da MTV, Mitch Malloy deixou a multinacional, que pretendia torná-lo na próxima estrela pop. Alguns fãs perderam-lhe o rasto, mas o cantor, compositor e produtor manteve-se no ativo com trabalhos regulares dentro da esfera rock, e chegou a passar pelos Van Halen, depois da saída de Sammy Hagar. As redes sociais voltaram a dar-lhe visibilidade e a gravação do primeiro DVD, em 2008, no Firefest, onde tocou, na íntegra, o seu álbum de estreia, mostrou que os fãs desejavam o regresso, em força, ao hard rock melódico.

O Palco Principal falou com Mitch Malloy uma semana antes do início da digressão europeia que o trará a Lisboa, pela segunda vez, a 13 de Novembro. Uma entrevista sincera, que passa em revista os momentos bons e menos bons de uma carreira que já merecia mais destaque.

Palco Principal – Quem tem seguido a sua carreira, ao longo dos últimos 20 anos, sabe que é conhecidopor serum verdadeiro camaleão... Hard rock melódico, pop, soft jazz, country, tem feito de tudo um pouco, sempre com grande naturalidade e classe. No entanto, há muito tempo que a sua base de fãs reivindica um novo disco que dê seguimento ao seu álbum de estreia. “Mitch Malloy II” parece ser a resposta a estas preces. Sentiu que era a altura certa para esse regresso às raízes? A resposta surpreendente do público ao DVD ao vivo gravado no festival Firefest, em 2008 [tocou o álbum de 1991 na íntegra e o DVD esgotou em poucos meses], teve alguma influência nessa decisão?

Mitch Malloy – Sim, suponho que teve alguma influência. Mas sinto-me como se fosse a primeira vez que estou a fazer isto e, portanto, é tudo muito fresco, novo e divertido, e é isso que me tem impulsionado. Também podemos culpar o Steve Lukather [guitarrista/ vocalista de Toto], que me disse que queria trabalhar comigo e me pediu para lhe enviar música. Comecei a trabalhar nisso, mas quando estava já a escrever, ele disse-me que só teria tempo para avançar com o nosso projecto daí a cerca de um ano e meio. Então, eu continuei a escrever e percebi que, pela sonoridade dos temas que estavam a resultar, era material para um “Mitch Malloy II”. O Victor Broden [músico sueco que tem colaborado frequentemente nos seus discos] também entrou no processo e ajudou a encaminhá-lo para uma vertente AOR. É engraçado porque ele diz que eu ajudei a definir o AOR e talvez tenha até aberto o meu próprio nicho neste mercado ao fazer as coisas à minha maneira, mas ele é um tipo muito musical e foi necessária a intervenção dele para me mostrar o que eu costumava fazer (risos)! Mas depois de ter percebido para onde me queria dirigir, a coisa tomou o seu curso naturalmente e atirei-me ao trabalho que nem um louco. Escrevi 26 canções em seis semanas, o que não é normal em mim... As canções fluíram como água! Como se estivessem estado ali à espera durante todos estes anos para saírem cá para fora (risos)!

P.P. - Keith Scott (Bryan Adams), Pete Lesperance (Harem Scarem), Phil Collen (Def Leppard), Bruno Ravel (Danger Danger) e Jeff Scott Soto (Talisman, Yngwee Malmsteen, W.E.T.)são apenasalguns dos pesos-pesados do rock que entram no CD como convidados… Como é que surgiram estes nomes: são amigos com quem já queria trabalhar há algum tempo? Conte-nos um bocadinho do processo de escrita e gravação.

M.M. - Bem, as razões foram diferentes para diferentes pessoas mas, basicamente, toda a gente queria ajudar. Aquele primeiro CD teve um impacto que eu nem sequer tinha percebido. Quer dizer, o Steve Lukather?? Eu nem sabia que ele sabia quem eu era! Mas, pelos vistos, ele é um fã e isso deixa-me absolutamente boquiaberto. Acabámos por não conseguir que ele tocasse neste CD porque está completamente assoberbado de trabalho mas tudo bem, há gente fantástica no disco. O Pete e eu falámos há anos em fazer alguma coisa em conjunto, assim como o Bruno. Quanto ao Phil, conhecemo-nos no ano passado e ele queria escrever para o CD e depois também quis tocar. Sou amigo do Jeff, que também entrou no meu CD de estreia, e o Keith é um amigo de longa data, portanto foi tudo muito fácil. Esperar e conciliar a disponibilidade de todos eles é que não foi nada fácil, acho que não volto a fazer as coisas desta forma. Da próxima vez, acho que vamos trabalhar com quem estiver disponível no momento...a bem da minha sanidade (risos)!

P.P. – Há, definitivamente, muito do som clássico de Mitch Malloy neste álbum e, em certos temas, parece que o tempo não passou e que esta é a sequência lógica do álbum de 91, com todas as grandes melodias e coros, os temas mais ritmados e as baladas. No entanto, no que diz respeito às letras, podemos sentir uma abordagem mais suave e madura de certos temas. A vida familiar e o facto de ter sido pai recentemente trouxeram-lhe a paz e estabilidade que procurava?

M.M. – Acho que sim. Também tentei escrever sobre as coisas más da vida, mas é-me difícil fazer isso. Mas o disco tem alguns temas mais pesados.

P.P. – Por exemplo, não fez segredo de que “Carry On” surge de uma reflexão sobre a mortalidade e que a perda do seu pai e de um amigo chegado nos últimos anos, bem como a morte trágica do vocalista da banda suíça Gotthard, Steve Lee, no ano passado, foram muito marcantes. Sei que teve oportunidade de mostrar o tema aos Gotthard... Qual foi a reação?

M.M. – O Leo [Leoni, baixista dos Gotthard] disse-me que chorou quando a ouviu. Eu pedi-lhes que tocassem no tema e eles disseram que sim. Um grupo de pessoas muito simpáticas, os Gotthard...

P.P. – Aliás, corre o rumor de que o Mitch Malloy poderá ser o próximo vocalista de Gotthard... Há alguma verdade nisto? Também tenho a certeza de que as pessoas ainda lhe perguntam sobre a sua breve passagem pelos Van Halen, depois da saída do Sammy Hagar. Neste momento, e depois de tantos anos de carreira a solo, ainda consideraria integrar uma banda?

M.M. – Eu adoraria estar numa banda. Teria que ser a banda certa mas, para dizer a verdade, estou mais feliz do que nunca no sítio em que estou no momento, musicalmente. Os Gotthard e eu somos apenas amigos, eles tocam no tema “Carry On” e eu não sou o novo vocalista deles. Aliás, tenho uma ideia de quem será esse vocalista, mas vou deixá-los anunciar a novidade quando estiverem prontos.

P.P. – Sendo fã de Van Halen e depois de ter estado na banda, o que é que pensa sobre a sua situação atual?

M.M. – Estou muito confuso com tudo, para dizer a verdade, e não tenho a certeza sobre o que é que se tem estado a passar. Mas adoraria que eles regressassem com um álbum de rock clássico fantástico com o David [Lee Roth], à la Van Halen.

P.P. - O CD “Mitch Malloy II” vai estar disponível no festival Firefest deste ano, em Nottingham, onde também vai tocar daqui a cerca de uma semana. Está entusiasmado por regressar a este Festival? Descreveu-o como sendo o “Paraíso do AOR”. O que é que o torna tão especial?

M.M.– Os fãs que o frequentam são o núcleo duro dos fãs de AOR em todo o mundo. Os melhores fãs de AOR do Mundo. Para quem está em palco, tocar para esta audiência é a melhor coisa que consigo imaginar.

P.P. – Este álbum será mais uma edição independente como, aliás, toda a discografia despois de “Ceilings and Walls” [álbum de 1994]. Não é segredo que a sua experiência com a RCA não decorreu da melhor maneira, mas depois de conhecer os dois mundos, gostaria de voltar a trabalhar com uma multinacional ou ter liberdade criativa total é mais importante?

M.M. – Adoro ter liberdade para criar mas também adoro poder contar com gente inteligente para gerir o negócio. Mas, neste momento, está a acontecer uma coisa muito interessante: os responsáveis da minha antiga editora marcaram uma reunião para discutir questões de marketing deste novo álbum e vão fazê-lo porque querem que eu seja bem sucedido. Não é fantástico? Acho que é inédito e estou estupefacto com isto. Portanto, é quase como se estivesse de volta à RCA. É verdade que a RCA não fez o que eu achei que devia ter feito, na altura, mas se não fossem por estas pessoas, eu não estaria a dar esta entrevista, porque ninguém saberia quem eu sou, portanto...

P.P. – Em 2008, subiu ao palco do Firefest com uma banda de suporte composta pelos músicos suecos Victor Broden, Tommy Denander e Magnus Ulfsted... Este Outono, regressa à Europa com uma banda italiana - Alessandro Del Vecchio (teclados e voz), Alessandro Mori (bateria), Anna Portalupi (baixo) e Mario Percudani (guitarra e voz) - que também já fez o suporte de músicos como Glenn Hughes e Steve Lukather. Como é que se conheceram?

M.M. – Um amigo do Facebook tinha material deles na página, eu ouvi e pedi-lhe que nos apresentasse. Afinal, eles também conheciam o meu trabalho e o meu contacto foi muito bem recebido, portanto, foi simples. Eles são as pessoas mais simpáticas que conheço e é uma honra para mim poder trabalhar com eles... são pura classe e extremamente talentosos! Estou muito entusiasmado para descobrir o que é que esta parceria nos reserva no futuro...

P.P. – A indústria tem apresentado muitos desafios aos músicos ao longo da última década e muitos tornaram-se bastante amargos quanto ao tema das novas tecnologias, redes sociais e formatos digitais, mas o Mitch Malloy parece estar a adaptar-se à nova realidade e a explorar o melhor possível os novos recursos.

M.M. – (Risos) A sério? Bem, eu gosto de estar sempre na vanguarda da tecnologia (risos). Sou completamente «geek», a sério. Por exemplo, montei os meus macs e pc’s de raíz. Costumo dizer às pessoas que sou um «geek» disfarçado de rock star (risos).

P.P. – Os fãs portugueses estão entusiasmados por, finalmente, poderem vê-lo a atuar com uma banda de suporte, depois de um espectáculo fantástico em Lisboa, em 2004, durante a sua digressão acústica, a solo. O que é que tem preparado para nós?

M.M. – Preparem-se, porque vai ser pura felicidade AOR... com muito cabelo a voar por todo o lado (risos)!

P.P. – Muito obrigada pela disponibilidade para conversar connosco!

M.M. – Sempre às ordens!

Liliana Nascimento