Estes quatro elementos estão ligados a uma Máquina que os acordou para o sucesso. Mas não foi só esta máquina que contribuiu para o mesmo. “Cai o Carmo e a Trindade” é o nome do primeiro álbum dos Amor Electroe conjuga canções originais com grandes clássicos da música portuguesa.

O concerto dado no Festival Delta Tejo deste ano foi o primeiro grande desafio para a banda. Entretanto outros desafios igualmente importantes se atravessaram no seu caminho. Nomeados para o prémio Best Portuguese Act, da MTV, os Amor Electro continuam a desbravar as ondas musicais portuguesas.

Palco Principal – Lançaram o álbum de estreia em Abril passado e depressa conquistaram o primeiro lugar do Top Nacional de Vendas, onde se mantiveram durante algumas semanas. Foram apanhados de surpresa?

Tiago Dias – Quando não estás à espera e recebes uma notícia boa, obviamente ficas estupefacto com o que está a acontecer. Nós fazemos o nosso trabalho, é certo, e acima de tudo queremos assegurar que é feito com qualidade e com prazer. E correu bem! E nós ficámos muito gratos por isso.

P.P. – Que influência teve esse sucesso instantâneo na banda?

Marisa Liz – Na minha opinião,esse sucesso fez com que tívessemosmais e melhores condições para trabalhar, porque no que respeita a intenção, essa mantém-se. Quando iniciámos este projeto, não tínhamos nada. A luta pela música e por aquilo que nós gostamos sempre foi constante e isso não vai parar. Se é assim há tantos anos, não é agora que vamos desistir dessa ideia. Por isso, o sucesso veio, simplesmente, ajudar a nível técnico, a nível deequipa e até mesmo a grandiosidade do espetáculo, na medida em que temos mais maneiras de efetuar um espetáculo diferente. A música em si e nós como banda mantemo-nos iguais.

P.P. – Está, portanto, fora de questão alterarem o estilo que vos caracteriza…

M.L. – O nosso estilo neste primeiro disco obedece às influências dos quatro e àquilo que queríamos fazer neste momento das nossas vidas. Como é óbvio, queremos manter esse estilo, mas, de hoje para amanhã, ninguém sabe o que vamos pensar. Quem sabe se não mudamos algumas coisas, mantenho o mesmo fio condutor?

T.D. – As influências não se resumem só à música. Resumem-se a tudo o que te rodeia. A nossa situação daqui a um ou dois anos será diferente e, provavelmente, levar-nos-á a outras coisas.

P.P. – Até porque a vossa sonoridade electro-rock-pop já é inovadora qb...

T.D. – É curioso – até brincamos um bocado com a situação -, pois o nosso nome – Amor Electro – define realmente o que fazemos. Temos um lado romântico e um lado electrónico. O motivo pelo qual adoptámos este tipo de sonoridade? Ninguém sabe. Só Deus. (risos)

M.L. – Durante a composição das músicas, fizemos o que achávamos estar certo, sendo que cada tema tem uma mensagem que queremos transmitir. A produção esteve a cargo do Tiago, que teve mãos de mágico por ter pegado em tudo aquilo que gostávamos e transpor no disco. Se, ao reunirmos as nossas influências, isso resultou em algo novo, ainda bem, até porque quando se pensa em fazer algo de diferente, nunca se consegue fazer nada realmente diferente.

P.P. – Sentem que vieram, de certa forma, ocupar uma lacuna que existia no panorama musical português?

M.L. – Nem sequer pensamos nisso…

P.P. – “Cai o Carmo e a Trindade” é o título do vosso álbum de estreia. A que se deveu a escolha desta expressão?

M.L. – Durante o processo de mistura do disco, apenas tínhamos o nome da banda. Até que, no decorrer de uma conversa entre mim e o Tiago, ele utilizou essa expressão. Na altura achámos que “Cai o Carmo e a Trindade” seria a expressão indicada para o nosso som e para este primeiro disco. Isto porque todos os elementos da banda tinham participado noutros projetos distintos e queriam afirmar-se e seguir um futuro como Amor Electro. Esta expressão acabou por nos dar o impulso de «ou é agora ou nunca» e, na verdade, acaba por dar uma certa ambiguidade ao projeto.

P.P. – Em “Cai o Carmo e a Trindade” adoptaram algumas músicas alheias, que vestiram com novas roupagens.O que levou àescolha destes temas?

M.L. – Antes de avançarmos com o projeto Amor Electro, tínhamos pertencido a um outro projeto, no qual apenas tocávamos versões, sendo que algumas das versões presentes no nosso disco de estreia trouxemos desse caminho anteriormente traçado, na medida em que faziam parte da nossa história. A nosso ver, fazia sentido mostrarmos aos outros por onde começámos musicalmente, criando uma história coesa e honesta. Outras versões foram escolhidas inteiramente pelos quatro membros da banda. São temas que nos dão um enorme prazer ouvir. Tentámos pegar na letra e na melodia em cru, de forma a conseguirmos fazer com que esses temas se tornassem nalgo nosso.

P.P. – O que vos dá mais gozo: criar músicas novas ou reinventar/desconstruir temas de outros artistas?

T.D. – Uma coisa não se compara com a outra. A criação de músicas originais apela ao teu sentimento mais puro. Mas as versões também acabam por dar imenso prazer, na medida em que são canções que gostavas que tivessem sido feitas por ti. A transformação da música é feita no sentido de levá-la a ser aquilo que sempre quisemos que ela fosse.

P.P. – Já há novas músicas dos Amor Electro na calha?

T.D. – Sim, estamos a fazer algumas músicas. Nós não temos a metodologia de fazer tudo por etapas. Nós misturamos um bocado as coisas e, para nós, a fase de criação é o ano inteiro. Nem sequer temos controle sobre isso: as coisas saem quando têm que sair. Nos próximos concertos queremos já incluir algumas dessas canções para as testar perante o público e também porque sentimos essa ânsia de mostrar coisas novas.

P.P. – É sempre um prazer subir ao palco?

M.L. – Para nós, tocar num grande palco ou tocar num showcase de uma loja torna-se sempre especial. Em qualquer uma das situações, nunca nos conseguimos cingir ao número de músicas que nos é imposto. Acabamos sempre por tocar mais do que é devido. Só o facto de podermos tocar e mostrar o que fazemos é, simplesmente, um privilégio. De nós, o público pode esperar sempre muita energia. A única mensagem que queremos transmitir é que, quem nos esteja a ver, esteja recetivo à música, às palavras, a nós enquanto seres humanos.

Ana Cláudia Silva