
O 78.º Festival de Cannes está em contagem decrescente para o arranque a 13 de maio, numa semana marcada pelo impacto das tarifas de 100% sobre o cinema estrangeiro nos EUA, um anúncio do presidente Donald Trump que promete provocar uma reação negativa na mostra mais importante da Sétima Arte.
Acostumado a polémicas políticas, Cannes também é uma vitrine mundial do cinema americano, tanto de Hollywood quanto independente.
Cannes é onde as estrelas desfilam, os futuros sucessos de bilheteria estreiam e novos realizadores são apresentados à crítica mundial.
O elenco de "Missão Impossível", liderado por Tom Cruise, apresentará o seu oitavo e talvez último filme numa gala especial fora da competição.
O evento homenageará ainda o ator Robert De Niro (81 anos) com a Palma de Ouro honorária.
O conhecido crítico de Trump fará uma palestra que promete ser repleta de anedotas, e Nicole Kidman receberá o prémio Women in Motion, dedicado às mulheres, num evento paralelo.
Na presença portuguesa, os filmes "A solidão dos lagartos", de Inês Nunes, e "Arguments in favor of love", de Gabriel Abrantes, foram selecionados para a competição de curtas-metragens.
"O Pássaro de Dentro", 'curta' de animação de Laura Anahory, produzida no âmbito do mestrado em Som e Imagem da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa (UCP), no Porto, surge na seleção Cinef, dedicada a filmes feitos em contexto escolar.
Já a longa-metragem "Entroncamento", de Pedro Cabeleira, que será exibida no programa ACID Cannes, paralelo ao festival.
Surge ainda "O riso e a faca", segunda longa-metragem de ficção de Pedro Pinho, que estará na secção "Un Certain Regard". Ainda surge também "Era uma vez em Gaza", dos irmãos palestinianos Arab e Tarzan Nasser, que conta com coprodução da portuguesa Ukbar Filmes.
Cinema brasileiro
O Brasil foi escolhido como País de Honra do Marché du Film, que acontece paralelamente ao festival, que decorre até 24 de maio.
O brasileiro Kleber Mendonça Filho concorre com "Agente Secreto", suspense ambientado em 1977, durante a ditadura militar.
Este filme pode recordar "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles, um sucesso de bilheteira e vencedor do Óscar de Melhor Filme Internacional este ano, a primeira estatueta para o país.
Ao todo são 21 filmes em competição pela Palma de Ouro, sendo sete dirigidos por mulheres, o mesmo número de 2023, quando o recorde histórico do festival foi quebrado.
Entre as longas selecionadas também estão "Romería", da espanhola Carla Simón (Urso de Ouro em Berlim em 2022) e "Sirat", do também espanhol Oliver Laxe.
Veteranos como os irmãos belgas Dardenne concorrem à Palma com um novo drama social como aqueles que já renderam dois prémios importantes no passado.
Também haverá espaço para o terror, do realizador norte-americano Ari Aster ("Eddington"), ou para dramas familiares como "Sound of falling", da alemã Mascha Schilinski.
Garcia Bernal como "Magalhães"
Outras propostas latino-americanas serão destacadas em secções paralelas.
A Un Certain Regard apresenta o chileno "La misteriosa mirada del flamenco", de Diego Céspedes, e "Un Poeta", do colombiano Simón Mesa Soto, vencedor da Palma de Ouro de Curta-Metragem em 2014.
Um programa sem prémios, mas que é uma boa vitrine, é a Cannes Première, onde se destacam o chileno "La Ola", de Sebastián Lelio, e uma longa filipina de Lav Diaz sobre o navegador Magalhães, interpretado pelo mexicano Gael García Bernal, coproduzida pela portuguesa Rosa Filmes, que teve filmagens em Portugal e em Espanha.
A Semana da Crítica, dedicada aos novos talentos, inclui "Ciudad sin Sueño", a primeira longa-metragem do espanhol Guillermo Galoe.
Além das polémicas à volta da guerra comercial, Cannes é um fórum acostumado a receber vozes dissidentes.
Pouco se sabe sobre "It Was Just an Accident", do iraniano Jafar Panahi, devido às tensões do cineasta com o regime do seu país, de onde ele está impedido de sair e oficialmente proíbido de fazer filmes.
Por acaso, o festival começa a 13 de maio, o mesmo dia em que um tribunal dará o seu veredicto sobre o primeiro julgamento por alegadas agressões sexuais durante a rodagem de um filme com a estrela francesa Gérard Depardieu.
No mês passado, Cannes recebeu um duro relatório parlamentar francês sobre violência sexual no mundo cultural. Os organizadores prometeram aumentar a vigilância.
Outro momento emocionante será a estreia do documentário "Era uma vez em Gaza": uma das protagonistas, uma fotojornalista palestiniana, morreu em meados de abril devido a um ataque aéreo israelita.
O júri da competição será presidido pela atriz francesa Juliette Binoche. A Palma de Ouro será anunciada no sábado, 24 de maio.
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