Editado pela Tinta-da-China, este livro é um convite a "desaprender Pessoa", segundo a expressão do mestre Alberto Caeiro, um dos mais famosos heterónimos do poeta, e a "lê-lo como se tivéssemos acabado de o descobrir", explica a editora.
"Ao arrepio de uma tendência recente que colocou o poeta num novo cenário, menos literário e cultural, e mais urbano e utilitário, o que esta 'Antologia Mínima' propõe é a descoberta ou redescoberta de Fernando Pessoa através de alguns dos mais espantosos versos do século XX", acrescenta.
"Ode marítima", "Tabacaria", "Chuva oblíqua", "O mostrengo", "O guardador de rebanhos", "Opiário" e "Autopsicografia" são alguns dos mais famosos poemas, que, a par com outros menos conhecidos" compõem "a mais sintética antologia do mais vasto dos poetas".
Segundo Jerónimo Pizarro, esta antologia não podia ter sido apresentada há uns anos, porque não se conheciam muitos dos poemas e faltava um maior conhecimento do espólio pessoano e de outros arquivos onde se conservam documentos do poeta, explica no prefácio Jerónimo Pizarro.
Este colombiano, um dos maiores conhecedores da obra pessoana, fala do seu próprio desconhecimento, quando confessa que se sente ainda um aluno na descoberta de Fernando Pessoa.
A este propósito recorda um episódio passado há uns anos, quando preparava uma antologia da poesia inglesa pessoana, e descobriu, com “surpresa”, que essa antologia – de poemas escritos pelo semi-heterónimo Alexander Search - tinha sido descoberta, entre outros, por Júlio Resende.
O músico, depois de ler essa antologia, compôs a fio, “numa espécie de êxtase cuja natureza não consegue definir, as canções do projeto Alexander Search”, a que o cantor Salvador Sobral dá voz.
“Esta antologia, dedicada ao Júlio, também espera inspirar inesperados e inúmeros leitores”, afirma.
É esta, pois, uma antologia que pretende que chegue aos “‘meros amadores’ da poesia pessoana, a quem não conhece essa poesia, a quem ainda não a julgou bem e a quem a pode redescobrir”.
Para Jerónimo Pizarro, propor uma antologia de Pessoa é difícil, porque a cada dia se afina o conhecimento da obra deste autor, porque o próprio poeta deixou planos para a publicação dos seus poemas e porque já existe uma antologia “estável”, constituída pelos poemas publicados em vida.
Esta compilação, que obrigou à consulta das versões conhecidas de muitos poemas e à revisão de muitas transcrições, inclui fac-símiles de boa parte dos poemas, oferecendo informação adicional sobre o poema editado, como a ortografia (que muda consoante a personalidade de Fernando Pessoa que escreve), notas e correções, e permite ler outros textos redigidos no mesmo suporte.
A primeira parte, e a mais extensa, é composta por poemas de Fernando Pessoa, ortónimo.
Seguem-se depois poemas dos heterónimos, quatro de Alberto Caeiro, oito de Ricardo Reis e outros tantos de Álvaro de Campos.
A antologia termina com “outros” poemas de semi-heterónimos e pseudónimos criados pelo poeta: Dr. Pancrácio, Charles Robert Anon, Alexander Search, Joaquim Moura-Costa, Vicente Guedes e Dinis da Silva.
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