"Um D. João Português" é um espectáculo concebido a partir de comédia intitulada "O convidado de pedra" ou "D. João Tonorio, o dissoluto", de Molière, numa tradução portuguesa de 1785, que se conjuga ainda com "O mendigo ou o cão morto", de Bertolt Brecht, conforme a proposta de Luis Miguel Cintra, responsável pela dramaturgia e pela encenação.
A primeira parte da peça é apresentada hoje, às 21:00, no Teatro Municipal Joaquim Benite e, a segunda parte, no domingo, às 16:00.
"Um D. João português" marcou o regresso de Luís Miguel Cintra ao teatro e à encenação, após a extinção do Teatro da Cornucópia, em dezembro de 2016.
O encenador, Cintra, e o produtor da peça, Levi Martins, estarão presentes numa conversa com o público, hoje, sábado, às 18:00, no foyer do Teatro Municipal Joaquim Benite, e que se centrará na produção.
Para "Um D. João Português", Luís Miguel Cintra reuniu um grupo de actores cujo percurso se cruzou com a Cornucópia.
Juntos visitaram, no último ano, quatro cidades portuguesas - Montijo, Setúbal, Viseu e Guimarães -, numa série de residências artísticas que lhes permitiu ir preparando e apresentando, à vez, as quatro partes em que foi dividido o espectáculo.
A versão integral estreou-se já este ano, em Guimarães, e apresenta-se agora em Almada, em duas partes.
Na primeira, acompanhamos a fuga de D. João e do seu criado Esganarelo, depois de o primeiro ter morto o pai de uma amante e voltado as costas a D. Elvira, a quem prometera casamento.
Na segunda, o herói prepara-se para oferecer um jantar à estátua do comendador morto, mas as recriminações de um credor, do próprio pai e de D. Elvira vêm adiar o seu encontro com o espírito.
O protagonista, todavia, parece incapaz de sentir remorsos. E a adaptação de Luís Miguel Cintra evita a sua condenação, complexificando assim, ainda mais, a reflexão sobre a actual crise de valores, o conceito de responsabilidade individual e coletiva, e as noções de bem e mal.
Luís Miguel Cintra nasceu em 1949, estreou-se como ator e encenador no Grupo de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Fundou o Teatro da Cornucópia, em 1973, mantendo-se à frente da sua direcção artística até à extinção da companhia, em dezembro de 2016. No cinema participou em filmes de Manoel de Oliveira, João César Monteiro e Paulo Rocha, entre outros.
Esta semana chegou às salas portuguesas de cinema o documentário "Correspondências", de Rita Azevedo Gomes, centrado nas cartas trocadas entre os escritores Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner Andresen, que tem em Luís Miguel Cintra uma das principais vozes para a memória do exílio.
Luís Miguel Cintra foi distinguido com o Prémio Pessoa 2005.
"Um D. João português" é interpretado por André Reis, Bernardo Souto, Dinis Gomes, Diogo Dória, Duarte Guimarães, Guilherme Gomes, Joana Manaças, João Jacinto, João Reixa, Leonardo Garibaldi, Levi Martins, Luís Lima Barreto, Luís Miguel Cintra, Maria Mascarenhas, Nídia Roque, Rita Durão, Sílvio Vieira e Sofia Marques.
A direção de produção é de Levi Martins, a assistência de produção e de encenação de Maria Mascarenhas e a luz e som, de Rui Seabra.
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