"Quando iniciei o projeto fiz uma pesquisa exaustiva e não encontrei, no mundo, nenhuma guitarra elétrica feita em cortiça expandida. Em Portugal há uma, mas em cortiça natural", explicou, hoje à agência Lusa, João Rodrigues, o autor do instrumento cujo som se vai fazer ouvir na sexta-feira, na capital do Alto Minho.

O projeto "pioneiro" do jovem de 24 anos, natural de Viana do Castelo, demorou dois anos a ser desenvolvido. O "desafio" começou quando o designer e músico iniciou a dissertação de mestrado em Design Integrado, sob a orientação dos professores Ermanno Aparo e João Abrantes.

Um ano foi aplicado em investigação académica e um outro na conceção do instrumento, que "apresenta características particulares como a leveza, devido ao facto de 75% do seu corpo ser em cortiça expandida".

"A cortiça expandida é feita a partir da reutilização da cortiça natural, como por exemplo as rolhas das garrafas. Essa cortiça é queimada e serve de revestimento para fachadas de edifícios, para isolar calor e som. Decidi aplicar o material à guitarra elétrica para dar uma nova portugalidade ao instrumento", referiu João Rodrigues.

Segundo João Rodrigues, "a guitarra fundiu-se entre técnicas empíricas do artesanato português e a alta tecnologia da produção industrial", sendo que a produção envolveu dez empresas do Norte do país e da Galiza.

"A cortiça expandida é um material que ainda não é muito comercializado. Foi essa a minha aposta para me afastar da imagem normal e conceber um instrumento mais original", sustentou, realçando que "a cortiça é veiculadora da identidade portuguesa e transmissora de valores sustentáveis e ecológicos".

O projeto envolveu empresas de instrumentos musicais, a empresa Amorim corticeira, uma companhia espanhola de compósitos e outras empresas da região do Minho.

O processo produtivo contou com a parceria da Escola Profissional Artística do Alto Minho (ARTEAM), nomeadamente, do professor de guitarra, Carlos Ribeiro.

Ao protótipo da guitarra elétrica, seguiu-se um exemplar a "sério" já experimentado pelos músicos Miguel Araújo, João Só e Tatanka, e que vai ser publicamente apresentado num concerto, no dia 12, no centro cultural de Viana do Castelo.

O projeto deu origem, este ano, a uma marca lançada por João Rodrigues e por um colega, formado em gestão a quem, entretanto, se associou. A empresa Mai´land Guitars já tem, na carteira de encomendas, a produção de mais uma guitarra e de baixo elétrico, com preço de venda de mil euros cada, e de várias malas, feitas do mesmo material para transporte de instrumentos musicais.

"Para além de vender guitarras, o projeto empresarial prevê a reciclagem de madeira e a reflorestação das florestas com uma árvore tão rica como o sobreiro pelo que, por cada guitarra vendida, são plantados 10 sobreiros", especificou.

A guitarra da Mai´land Guitars será apresentada oficialmente, no dia 12, num concerto no centro cultural da Viana do Castelo, incluído no programa do oitavo Encontro Nacional de Estudantes de Design(ENED) que, este ano, se realiza na capital do Alto Minho, com o tema “Design, Indústria e Artesanato”.

O encontro, organizado pelos estudantes de design do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), com os apoios da Câmara Municipal, da associação de estudantes da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) e da Federação Académica, contando com a presença de mais de 500 participantes.

No concerto, a guitarra elétrica de cortiça expandida será acompanhada por um trompete desenvolvido pelo professor do IPVC, Ermanno Aparo, que alia a arte da filigrana à metalomecânica.

Uma empresa da Póvoa de Lanhoso produziu os anéis do trompete, feitos em prata, utilizando a técnica da filigrana portuguesa. Já os moldes, em aço, para a campânula e para outros componentes do instrumento, foram produzidos por uma empresa de metalomecânica de Viana do Castelo, que faz peças para a construção naval. Produzido em cobre por Francisco da Cunha Liquito, um artesão de Caminha, o "Almada Trumpet", como foi batizado, está avaliado em oito mil euros

O trompetista Gileno Santana e o guitarrista Henrique Neto, ambos brasileiros, apresentarão o projeto "O Inevitável".

O "trompete e a guitarra enaltecerão a mensagem de que os projetos académicos e de investigação que envolvem o meio empresarial, fortalecem a ligação entre os docentes e os alunos e potenciam uma sinergia capaz de gerar sustentabilidade, criatividade e inovação".