“Desde que comecei a tocar música, desde que comecei a tocar jazz, o Bernardo foi sempre uma influência, porque era o expoente máximo desse estilo de música em Portugal”, referiu o saxofonista, em declarações à Lusa, a propósito do concerto “Ricardo Toscano Quarteto toca Bernardo Sassetti”, promovido pela Casa Bernardo Sassetti – Associação Cultural.
Em palco na quinta-feira estarão, além de Ricardo Toscano, João Pedro Coelho (piano), Romeu Tristão (contrabaixo) e João Lopes Pereira (bateria).
Os quatro, que começaram a tocar juntos há cinco anos, vão “usar a matéria-prima”, que é a música de Sassetti, e “esculpi-la”.
“Não vamos tocar a música como ela foi tocada, porque não faz sentido, porque a música já foi tocada daquela maneira. E se encararmos a música dessa forma nunca lá chegaremos. Só o facto de sermos nós a tocar, vai ter um som diferente porque somos pessoas diferentes”, disse Ricardo Toscano.
Para preparem o concerto, pediram “umas dicas” a “Carlos Barretto [contrabaixista] e Alexandre Frazão [baterista], músicos que tocavam com o Bernardo sempre”.
“Temos esse apoio e eles estão muito contentes por saberem que vamos fazer este concerto com a música em que participaram e à qual também deram vida. Está a ser um processo espetacular, estamos a aprender bastante”, partilhou.
Nesta semana, “na reta final para o concerto”, o quarteto vai juntar-se para “ensaios muito longos a trabalhar a música”.
Quando ao repertório do espetáculo, “a ideia é passar por todas as fases da carreira do Bernardo”.
Escolher as músicas é, “ao mesmo tempo, um bocado frustrante”. “É difícil para um concerto de uma hora e pouco tentar escolher só algumas coisas, porque há tanta música boa”, afirmou, sugerindo que “isto podia ser uma temporada de concertos em vez de só um concerto”.
A Casa Bernardo Sassetti escolheu desafiar Ricardo Toscano “para que música do Bernardo seja relembrada, mas mais ainda para que seja explorada nas mãos de alguém que, tendo os pés na tradição, tem o olhar no futuro”, lê-se no texto de apresentação do concerto.
Natural de Lisboa, Ricardo Toscano, de 25 anos, começou a aprender clarinete com oito, numa banda filarmónica. Aos 13, entrou no Conservatório Nacional, mudando-se dois anos depois para a escola profissional da Orquestra Metropolitana de Lisboa. Entretanto, aos 16 anos começou a estudar saxofone na escola do Hot Clube de Portugal. Um ano depois entrou na Escola Superior de Música de Lisboa.
Em 2011, formou o Ricardo Toscano 4teto com André Santos, João Hasselberg e João Pereira, formação que ganhou a 25.ª edição do Prémio Jovens Músicos na categoria de Jazz.
Ao longo da carreira já tocou e colaborou com músicos como Júlio Resende, Afonso Pais, Fernando Alvim, Carlos do Carmo, Camané, Rui Veloso, António Zambujo, Carminho, Amélia Muge e Cristina Branco.
Bernardo Sassetti, que morreu em 10 de maio de 2012, aos 41 anos, era considerado um dos mais criativos pianistas da sua geração, para lá das fronteiras do jazz.
O músico iniciou-se no jazz no final da adolescência, quando começou a tocar com Carlos Martins e com o Moreiras Quartet, mas o percurso foi transversal na música portuguesa, tendo trabalhado com músicos do fado, do pop rock, do hip-hop.
Em setembro de 2012, meses depois da morte, a família fundou a Casa Bernardo Sassetti, com o objetivo de promover a obra do autor "enquanto compositor, enquanto músico e também na área da imagem, enquanto realizador, pintor e fotógrafo".
Em 2015, a associação Sons da Lusofonia criou o Prémio de Composição Bernardo Sassetti, atribuído anualmente, para incentivar a criação musical de jovens músicos na área do jazz e para homenagear o autor.
No ano passado, o Jardim de Inverno do Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, passou a chamar-se Sala Bernardo Sassetti.
Comentários