Uma carta que ninguém devia ter lido, que Evan Hansen escreve com frequência por indicação do seu terapeuta, catapulta o adolescente do anonimato social para protagonista de uma história onde com frequência se sente como um peixe fora de água.
Sem coragem para desmistificar que o conteúdo da carta não corresponde ao significado que as outras personagens lhe dão, o tímido e ansioso Evan Hansen acaba por ceder ao que lhe vão impondo, não deixando de tentar encontrar o seu espaço.
Além dos problemas característicos da adolescência, Evan Hansen – cujo pai nunca se vê – é criado pela mãe, que tem grande parte do tempo ocupado pelo trabalho.
Para Rui Melo, que adaptou o texto do dramaturgo e argumentista norte-americano Steven Levenson, “Querido Evan Hansen” “é um espetáculo que fala de muitas coisas”.
“Não fala só sobre a ansiedade, a depressão e as tentativas de suicídio na adolescência, mas fala também sobre a culpa da paternidade que está sempre presente”, referiu no final de um ensaio da peça, acrescentando identificar-se com muitas personagens, “pois também é pai”.
Melo remete mesmo para a letra de uma das canções do espetáculo – “se alguém tem um livro de instruções ou um mapa que me possa guiar” – com a qual também se identifica. Porque “é essa sempre a sensação da paternidade”, sublinhou.
“Desconstruir a complexidade do que é a vida ‘online’ e transpô-la para uma versão ultra-simplificada em palco” foi o objetivo da construção da peça, cuja cenografia se pauta pela simplicidade, com apontamentos aqui e além que se vão movendo, como uma cama, um sofá ou uma espécie de patamar.
Questionado sobre se pretende que a peça funcione como uma lição ou um exemplo, Rui Melo disse que gostava que o espetáculo fosse "um reconhecimento de que a juventude está um bocado perdida".
"Perdida no sentido de sem rumo, sem norte e as redes sociais e a internet de uma forma geral estimulam isso ainda mais; pioram a coisa”, frisou.
Por isso, este não é apenas um espetáculo “que pode tocar fundo nos adolescentes, mas que pode – e deve – tocar muito fundo nos pais também”.
“Porque estamos cada vez mais sós, e isso é absolutamente intergeracional”, afirmou.
Com encenação e adaptação de Rui Melo, o espetáculo é interpretado por Gabriela Barros, Miguel Raposo, Sílvia Filipe, Brienne Keller, Dany Duarte, Inês Pires Tavares, João Maria Cardoso e João Sá Coelho.
A direção musical é de Artur Guimarães e a música é assinada por Benj Pasek e Justin Paul.
Na terça-feira, haverá um ensaio solidário, com a receita da bilheteira a reverter na íntegra para o Lucas with Strangers, um projeto criado por Lucas Rodrigues em 2021 e que se destina a mudar a vida das pessoas com quem este se cruza.
Em cena até 3 de novembro, a peça tem sessões de quinta-feira a sábado, às 21h00, e, ao domingo, às 17h00.
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