Cristiano Ramos, Tânia Pires e Rúben Santos regressaram a duas aldeias de Bragança - Parada de Faílde e Gimonde - ouviram o povo cantar e recompuseram já uma dúzia de canções com influências do rock, jazz, música francesa e eletrónica, que vão apresentar às comunidades rurais, depois de dois concertos no bar Praça 16, em Bragança.
Um dos sócios do bar, Pedro Cepeda, foi o impulsionador da ideia e quem convidou os três músicos para o projeto que batizou de “Lapandim”, uma expressão transmontana que significa miúdo irrequieto, e que está a ser divulgado nas redes sociais.
Pedro viu um dos episódios de “O Povo que Canta”, a maior recolha de música tradicional portuguesa feita em cerca de 600 aldeias pelo francês Michel Giacometti, e foi daí que teve a ideia de juntar alguns músicos e percorrer as aldeias, no caso as duas de Bragança.
Como contou à Lusa, o propósito foi, para lá de “reinterpretar o que estava feito, recolher outras [músicas] junto das comunidades” e foi o que fizeram, reunindo “algumas dezenas de registos”.
Os três músicos recompuseram algumas canções e as da aldeia de Parada de Faílde foram apresentadas num concerto no dia 28 de fevereiro, no Praça 16, enquanto as de Gimonde vão ser tocadas a 26 de março, estando previsto repetir os concertos mais tarde em cada uma das comunidades.
“Isso é que é interessante neste trabalho: recriar. Pegar no tradicional e juntar as nossas influências musicais, com todos os riscos que isso acarreta”, notou Cristiano Ramos.
Mais do que os concertos no bar, a expectativa de todos é ver a reação das populações locais aos novos arranjos de músicas conhecidas da infância de todos ou ligadas aos trabalhos agrícolas.
Fazem este trabalho sem objetivo comercial e vincam que se os concertos são importantes, também o é o contacto com as pessoas.
“Se soubessem o divertido que tem sido para nós”, conta entusiasmado Rúben Santos.
Nas duas aldeias, já não encontraram ninguém do tempo dos registos de Giacometti, mas ainda há quem se lembre de ter estado por lá “o francês com uma carrinha pão de forma”, como contaram à Lusa.
O grupo já começa a pensar em dar continuidade ao projeto e aventurar-se por outras aldeias, mas consciente de que necessita de apoios e de que depende do interesse que o projeto possa suscitar, nomeadamente junto dos municípios.
“Se pensarmos que o Giacometti esteve em 600 aldeias, temos aqui trabalho para anos”, refere Pedro Cepeda, que, ao contrário dos outros elementos, que vivem da música tocando e ensinando, é apenas um aficionado pelo cultura e tradições.
O bar que abriu, junto com outro sócio, há cerca de dois anos, distingue-se pela componente cultural com concertos, mas também noites de poesia, conversas sobre temas variados como o envelhecimento, a produção de mel ou a mobilidade, assim como jogos ou troca de livros.
O espaço fica num edifício histórico do centro da cidade, na praça da Sé, e fez Pedro, que trabalhava numa empresa de consultadoria do Porto, regressar a Bragança para se juntar ao sócio Norberto e criarem um espaço “com uma programação cultural regular e alguma intervenção artística”.
A partir de maio, o espaço vai estender-se para o jardim exterior traseiro do edifício com novas ofertas para “captar outros públicos e fazer outro tipo de iniciativas” como feiras de coisas velhas ou de música para troca de discos.
“O público adere”, diz Pedro, garantindo que muitas vezes até fica “surpreendido com o número de pessoas” que aparece, apesar de o atual espaço ser pequeno.
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