“São quatro mulheres a fazer o espetáculo e é uma coisa que se vê pouco em teatro: quatro mulheres a fazerem comédia, e uma comédia que goza com os estereótipos da condição feminina”, referiu, em declarações à Lusa o encenador António Pires.
“O Mundo é Redondo”, com tradução de Luísa Costa Gomes, é um texto escrito em 1939 por Gertrude Stein para crianças, “mas não só”. “É um texto que tem o estilo da Gertrude Stein lá posto e de uma forma muito forte. E é o texto mais icónico dela, é onde está aquela frase famosa: ‘Rose is a rose is a rose is a rose’”, disse o encenador.
Num texto como este, que “não tem uma narrativa, não é uma história com princípio, meio e fim, nem tem personagens muito bem articulados a imitar a vida”, “trata-se de construir um mundo novo, um mundo completamente do imaginário, com coisas completamente disruptivas”.
Esta construção “aproxima-se muito da forma como as crianças se calhar aprendem o mundo”.
Este é o quarto texto da autora norte-americana que António Pires encena. “É um tipo de linguagem com o qual me identifico muito. São textos que não são concretos, textos muito livres, que me permitem fazer um teatro que parte de uma grande liberdade, ou seja, posso por os atores a cantar, a dançar”, explicou.
De uma “obra abstrata” – “é quase como estar perante uma obra do Picasso, cada pessoa vê coisas completamente diferentes” -, António Pires fez “um espetáculo muito divertido”.
“As pessoas fartam-se de rir do princípio ao fim. Provoca emoções e não é por nada lógico, é por um jogo de palavras, é por um jogo de situações, de repetição, é muito engraçado”, contou, lembrando que Gertrude Stein “costumava dizer que gostava que os seus espetáculos fossem como as paisagens: uma pessoa pode ficar horas a olhar para uma paisagem e gostar da paisagem, do por do sol, por exemplo, e não saber explicar porque é que gosta”.
“O Mundo é Redondo” centra-se em Rosa, uma criança “que começa a querer aprender o mundo”.
Na peça, o elenco é composto por quatro atrizes - Rita Loureiro, Solange Santos, Carolina Campanela e Isadora Alves – que fazem de narradoras.
“Contam esta história ao público, e de alguma maneira elas assumem, cada uma à sua maneira, a personalidade da Rosa”, acrescentou.
“Cada uma delas assume a Rosa e tem um ponto de vista muito pessoal. Quando dividimos o texto, fizemos a dramaturgia, foi a pensar em cada uma das atrizes e elas puseram muito delas lá, fisicamente, mas também o ponto de vista desta experiência desta menina Rosa a descobrir o mundo”, disse.
O “humor e sarcasmo” na peça “é muito delas, uma certa crítica, uma certa ironia, sobre a Rosa e sobre a maneira como vê as coisas”.
As quatro fazem o mesmo em relação um outro personagem, Will, primo de Rosa, “e têm a hipótese de criticar alguns tiques masculinos”.
“Todas elas fazem os dois personagens, sendo narradoras. É como se estivessem as quatro a contar-nos uma história”, descreveu António Pires.
“O Mundo é Redondo” estará em cena até 18 de novembro, de quarta-feira a sábado às 21:30 e aos domingos às 17:00.
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