“Cuidado aí com as bicicletas atrás, isto é um bocado caótico. É uma desorganização organizada”, avisou Nuno Varela, artista de hip-hop e um dos responsáveis pelo projeto, à entrada da comitiva do Livre no espaço, no bairro do Armador, distrito de Lisboa.
O espaço é colorido e cheio de materiais de todo o tipo. À direita, no chão, um monte de bicicletas chama a atenção. Nuno Varela explicou que estão ali à disposição de qualquer jovem que as queira requisitar para passear pelo bairro.
“O Kriativu é um espaço de desenvolvimento da criatividade que foi inaugurado aqui em 2021, onde jovens do bairro e não só podem utilizar as diferentes atividades aqui presentes”, explicou aos jornalistas e ao porta-voz do Livre, Rui Tavares, que esteve acompanhado pelo ‘número dois’ por Lisboa nestas legislativas antecipadas, Isabel Mendes Lopes.
As atividades incluem pintura, exposições de fotografia, música (com a disponibilização de um estúdio profissional) ou a criação de ‘podcasts’.
Mas não só: logo à entrada do primeiro espaço vê-se Wilson Lopes, artista do movimento ‘BNC (Bringing New Colours)’ [trazer novas cores], que dá uma nova vida a sapatilhas e ténis deixados por jovens no seu ateliê.
“Toda a gente tem uns ténis em casa que deixou de utilizar passado algum tempo. Então nós incentivamos muito a que nos tragam esses ténis para trabalharmos com eles e para darmos uma nova vida a esses ténis através de processos de limpeza e restauro”, explicou, sorridente, apontando que este processo tem também vantagens do ponto de vista ambiental.
Há de tudo nas sapatilhas restauradas por Wilson: desde personagens da série ‘Dragon Ball’ a uns simples ténis que passaram de cinzentos para um branco imaculado.
Na parede, atrás do artista, vários desenhos feitos por crianças. O espaço acaba por ser um porto seguro para jovens que por vezes passam por situações sociais mais complexas e encontram ali apoio. Nuno Varela confessou que nem sempre é fácil lidar com essa dimensão do projeto.
“Não é fácil, muitas vezes saímos daqui super cansados e queremos ir para uma realidade completamente diferente, ir para um restaurante de Lisboa e sair um bocado da realidade do bairro porque é muito difícil a carga emocional que nós levamos daqui diariamente”, confessou.
A ideia nasceu em 2021 e depois de ter “derrubado algumas portas” e “entrado por algumas janelas”, Nuno Varela conseguiu o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e expandiu o primeiro espaço.
Nesta visita, Rui Tavares aproveitou para ‘vender o peixe’ eleitoral do Livre, com uma proposta que consta do programa do partido, as “casas da criação”.
A ideia é ter “uma rede de espaços culturais abertos à comunidade e ao encontro intergeracional, com oficinas de artes de acesso democratizado a um conjunto de equipamentos que potenciam a criação artística e que prime pela inclusão e diversidade das comunidades participantes”, lê-se no programa.
“Uma das razões por que estamos aqui é porque o que vocês fazem já é muito o que gostávamos que houvesse disseminado pelo país”, disse Tavares.
Se o primeiro espaço é uma espécie de oficina, o segundo, mesmo ao lado, é mais arrumado, calmo e tem o material necessário para produzir um podcast. Foi neste local que Nuno Varela deu a conhecer o próximo projeto que ambiciona criar no âmbito do Kriativu: a “gazeta do bairro”.
“Uma plataforma de comunicação criada por pessoas do bairro e com informações sobre o bairro. Um pouco para ir contra a desinformação que é criada nestes territórios e aquela má ideia, aquele conceito predefinido que já têm sobre estes territórios”, disse, na esperança de que este tipo de projetos possa trazer uma nova perspetiva da sociedade sobre Chelas e o bairro do Armador.
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