Na ocasião, o prolífico compositor tinha 27 anos. Ele ofereceu a canção pela primeira vez ao cantor Hugues Aufray, que a recusou: "É boa, mas não é para mim", alegou. Outros artistas também a rejeitaram, como a cantora Petula Clark.
Até que, durante umas férias em Cannes, Revaux conheceu Claude François, estrela francesa dos espetáculos de variedades. "Nós comemos juntos e ele reclamou: 'compõe sempre as suas coisas para toda a gente, mas não para mim".
O compositor falou então ao colega sobre o tema "For Me". "À beira da piscina, ele disse-me: 'então, vai tocar para mim, ou não, seu m*****?'", recorda o compositor, entre risos.
Depois de "Cloclo", como Claude François era conhecido, ter gravado a canção, rebatizada de "Comme d'habitude", Revaux recebeu uma chamada do seu representante. "Claude quer que o nome dele apareça em todas as faixas, mas não está nesta. Importa-se que o nome dele apareça junto ao seu na canção?", perguntou o agente.
Revaux aceitou. "Naquela altura, não sabíamos o que estávamos a fazer...", argumenta. "Compositor: Claude François, Jacques Revaux. Autor: Gilles Thibaut (letra, ndlr)", é o que consta no registo de obras da Sacem, órgão que gere os direitos de autor.
"A única coisa que lamento é que a minha assinatura tenha desaparecido para o público em geral", acrescentou. "Claude - que descanse em paz - agiu como todas as estrelas que dizem 'eu é que fiz'", lamenta, embora reconheça que "Cloclo" deu um tom menos "doce" à melodia original e que a cantou de forma formidável.
No final de 1967, o compositor Paul Anka, durante uma visita a Paris, viu Claude François na televisão a cantar "Comme d'habitude". Ele fez uma opção de compra da canção, reescreveu-a - em francês a letra fala de um casal em crise por causa da rotina, a versão em inglês faz um balanço do final de uma vida de uma pessoa - e ofereceu-a ao produtor de Frank Sinatra.
O músico aceitou e gravou o tema no final de 1968. "Reza a lenda que foi a primeira gravação", comenta Revaux.
O seu lançamento em 1969 foi um grande sucesso. "Se tivesse sido uma tradução simples, essa música não teria 1% da sua carreira; obrigado, sr. Paul Anka", afirma o compositor, que se lembra da satisfação de ouvi-la pela primeira vez da voz de Sinatra.
Hoje, continua a saborear a obra. "Nunca a apreciei tanto como nos últimos anos", afirma o francês, que, numa ocasião, esteve muito próximo de "The Voice", durante uma cerimónia de entrega de medalhas em Paris. "Mas não tenho como provar isso, nem tenho uma foto com Sinatra", conta.
E o que acha da versão de Sid Vicious, o famoso baixista dos Sex Pistols? "Não é a mesma música [risos], mas adaptou-se à personalidade dele", afirma. Mas as versões são inúmeras, de Elvis Presley a Julio Iglesias.
Mas qual é a sua favorita? "A de Nina Simone é a 'recriação' mais bonita", frisa.
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