Em Lisboa, pelas 18:00 de domingo, Savall apresenta "O Milénio de Granada", com o ensemble e ainda o agrupamento de solistas La Capella Reial de Catalunya - dois grupos que fundou com a soprano Montserrat Figueras -, numa exploração de mil anos da História da cidade espanhola de Granada.

No dia seguinte, no Porto, o maestro e músico catalão, de 76 anos, apresenta, com o Hespèrion XXI, bem como os músicos sírios Waed Boudassoun e Moslem Rahal e o grego Dimitris Psonis, o espetáculo "Um diálogo das almas", estabelecendo “a ligação entre a música do Oriente e do Ocidente”, num espetáculo marcado para as 21:30, no Palácio da Bolsa.

O programa apresentado na capital corresponde a uma encomenda do Festival de Música e de Dança de Granada, com vista a celebrar o milénio da fundação do Reino de Granada, assinalado em 2013, e funciona como “uma evocação história e musical de cinco séculos na vida de uma das mais importantes e admiradas cidades da Andaluzia muçulmana”, pode ler-se num texto reproduzido no programa, e assinado pelo músico.

A viagem musical parte da fundação, em 1013, e atravessa o período de maior fulgor do reino, antes do seu declínio e eventual incorporação no Reino de Castela e Leão, com a conversão forçada de muçulmanos.

A exploração musical de Savall do período entre 1013 e 1526 foi gravada em disco, numa apresentação ao vivo Palácio Carlos V, e editada em 2016, com o programa lisboeta a assentar na mesma base.

Partindo de “uma ampla variedade de origens e tradições”, o concerto demonstra a riqueza histórica e cultural daquele reino como símbolo da "Espanha das três culturas".

Da música judia do "Cântico dos Cânticos" passa-se para a tradição cristã, com vilancetes de Juan del Enzina, peças do "Códex las Huelgas" e outros representantes do reportório moçárabe e de códices medievais hispânicos.

Da cultura islâmica andaluza, nota para “textos e poemas de autores como Ibn Zamrak ou Ibn Zuhr”, bem como danças anónimas “preservadas nas cidades e países para onde emigraram em grande número os muçulmanos andaluzes, durante e depois das Guerras de Granada”.

No programa inserido no festival portuense, Savall e o Hespèrion XXI atravessam quase duas dezenas de canções de várias tradições, num “diálogo de música instrumental cristã, judaica, hispano-muçulmana, occitana e a Itália medieval, com música de Marrocos, Israel, Pérsia, Arménia e do Antigo Império Otomano”, pode ler-se no programa.

O alinhamento do concerto combina danças bizantinas, canções escritas em território sírio e outras em países como Itália e França, além de música de tradição sefardita, danças bizantinas, árabes, turcas e gregas.

Num texto reproduzido no programa do In Spiritum, o autor franco-libanês Amin Maalouf encontra nestas “soberbas músicas, vindas de épocas e terras diversas”, uma proximidade entre “civilizações que nos pareciam afastadas umas das outras” e, mesmo sendo inimigas, surgem assim “espantosamente próximas, espantosamente cúmplices”.

“No decorrer desta viagem no tempo e no espaço, interrogamo-nos a cada instante se, finalmente, os conflitos a que nos acostumámos não são enganadores, e se a verdade dos homens e das culturas não reside antes neste diálogo dos instrumentos, dos acordes, das cadências, dos gestos e dos sopros instrumentais”, acrescenta.

Distinguido com o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural, em 2015, o maestro, intérprete de viola da gamba e musicólogo, tem mais de 50 anos de carreira dedicados à música antiga, mantendo há muito uma ligação de presença assídua a Portugal, desde os Concertos Em Órbita, do antigo programa de rádio do arquiteto Jorge Gil, pioneiro na divulgação da música pré-romântica e da interpretação historicamente informada, à ex-Festa da Música, do CCB, e aos ciclos de Música Antiga, com que a Fundação Calouste Gulbenkian costumava abrir as temporadas de música.

O Hespèrion XXI foi fundado por Savall e Montserrat Figueras em 1974, com a dupla a formar também La Capella Reial de Catalunya 13 anos depois, criando com os grupos uma extensa obra discográfica, que engloba mais de 230 discos, na maioria publicados desde 1998 em editora própria, a Alia Vox, além de uma agenda preenchida de atuações ao vivo.

Em 2016, o catalão tocou em campos de refugiados na Grécia e em Calais, em França, antes de fundar o Ensemble Orpheus XXI, que junta músicos profissionais do Afeganistão e da Síria, e lançou este ano um novo disco, “Música Nova, harmonia das nações”, com “as melhores peças para consortes, tocadas em violas” e compostas em cidades como Londres, Veneza, Roma, Versalhes ou Madrid, entre 1500 e 1700.

À margem dos concertos de domingo e de segunda-feira, estarão expostos, na Gulbenkian e no Palácio da Bolsa, “um conjunto de edições, selecionadas pelo próprio maestro, dentro da vasta discografia da Alia Vox, nomeadamente as edições consideradas mais importantes na obra de Jordi Savall e Montserrat Figueras”, avançou a editora em comunicado.