“Não será uma exposição, mas queremos refletir e trazer para o presente a herança e a importância que a escola da Bauhaus teve”, disse à agência Lusa a diretora do MUDE, Bárbara Coutinho.
O programa ainda está a ser preparado, mas o objetivo é promover uma abordagem não só na área interdisciplinar do design, da arquitetura, das artes, no seu todo, mas também sobre a importância da Bauhaus enquanto projeto pedagógico e social.
O evento acontecerá no segundo semestre do ano, em data e espaço ainda a definir, em Lisboa.
“É bastante relevante, passado um século, refletirmos sobre este ideal, um pouco utópico (…) de como em 1919 foi pensada uma escola bastante inovadora do ponto de vista pedagógico”, observou.
A forma como eram estruturadas as disciplinas, o modelo de ensino, a articulação entre a teoria e a prática, procurando promover “toda a formação do sujeito e do futuro artista, do futuro design, do futuro arquiteto como cidadão, numa perspetiva mais holística”, continuam a merecer reflexão, segundo Bárbara Coutinho.
“Convocavam-se variadíssimas disciplinas, dentro de uma leitura pluridisciplinar, trabalhavam-se diferentíssimos aspetos da formação cognitiva, mas também psicológica e física”, frisou, explicando que todo este trabalho concorria para o desenvolvimento de uma sensibilidade mais moderna, com outra leitura em relação aos materiais, à estética desses novos materiais e à resposta a dar ao mercado e à sociedade da época.
Para a diretora do MUDE, a escola da Bauhaus não deve ser vista como um monólito, uma vez que viveu várias fases entre 1919 e 1933. No entanto, a herança que deixou marcou todo o século XX.
“Colocou as artes e a sociedade num maior entendimento, numa maior relação de complementaridade, que discute a questão das artes aplicadas e o design e promove uma outra visão, mais integrada, mais inclusiva e mais atuante”, afirmou.
O resultado foi uma modernização de toda a sociedade: “Esse lado, essa carga social é bastante importante, para já não falar da componente estética, do moderno”.
A Bauhaus vai influenciar a sociedade emergente do pós-guerra, o redesenho total do espaço, da habitação, da casa e de todas as suas componentes.
“Convém termos presente que a própria designação Bauhaus significa ´casa da construção´, não é casa da arquitetura e a arquitetura é uma componente estrutural, mas tem todas as outras artes”, referiu.
Entre as outras artes, encontram-se as várias expressões do design, o têxtil, o vidro, a cerâmica, o metal. Todas estas componentes reunidas num projeto vão redefinir os mais variados aspetos do quotidiano, com um ideal de vanguarda por trás, um ideal transformador. “Não é a arte pela arte, é a arte com a sua capacidade transformadora do homem e da sociedade”.
Muitas das vanguardas da década de 1910 congregam-se na Bauhaus, um espaço em que a construção é entendida como “uma obra de arte total”, revolucionária também no desenvolvimento de uma nova sociedade e um novo homem.
“Não é por acaso que depois será encerrada em 1933, com toda a afirmação das forças nazis. Isso não é um mero acaso”, notou Bárbara Coutinho.
“Durante muitos anos, a escola foi identificada, não só como um setor das vanguardas, mas das componentes socialistas, esquerdistas, e tinha-as representadas em diferentes aspetos”, indicou, sublinhando que essa leitura transformadora da sociedade estava “bem expressa” na Bauhaus.
A iniciativa a realizar pelo MUDE poderá abranger outros parceiros e visa refletir sobre a atualidade da Bauhaus e que nova Bauhaus poderá hoje ser defendida.
Desafiada a destacar um produto, Bárbara Coutinho elegeu os brinquedos produzidos pela escola alemã, pela forma como foi pensada a pedagogia para crianças, “o brincar”, pela componente modular, pela cor e pela capacidade de “promover a imaginação, e o raciocínio lógico”, com a associação de peças.
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