Taylor, que atuou por diversas vezes em Portugal, a última das quais em 2011, num concerto a solo, no Jazz em Agosto, da Fundação Calouste Gulbenkian, morreu em sua casa, em Brooklyn, confirmou à imprensa o seu representante legal, Adam C. Wilner.
Nascido numa família de classe média, em Long Island City, Queens, em 25 de março de 1929, Cecil Percival Taylor iniciou-se na música aos 6 anos, com aulas de piano e, ao contrário de outros músicos de jazz da sua geração, teve uma formação clássica que passou pelo antigo New York College of Music e pelo Conservatório de New England, em Boston, sempre incentivado pela sua mãe, Almeida Ragland, bailarina e violinista.
Gravou o primeiro disco em 1956, "Jazz Advance", no regresso de Boston a Nova Iorque, quando liderava o seu primeiro quarteto, com o saxofonista Steve Lacy, o contrabaixista Buell Neidlinger e o baterista Dennis Charles.
Foi o suficiente para que o seu nome surgisse a par de inovadores do jazz como Ornette Coleman ou John Coltrane, embora palcos de jazz mais conservadores lhe fechassem as portas naquela década de 1950.
O desafio dos padrões convencionais destacou-o, porém, no festival de Newport, em 1957, atuação que foi gravada em disco, e levou-o às sessões de estúdio de "Stereo drive", do saxofonista John Coltrane, em 1958.
Um ano depois, Taylor gravou o segundo álbum em nome próprio, "Looking ahead", já sem Steve Lacy, mas com o vibrafonista Earl Griffith, e ainda Buell Neidlinger e Denis Charles.
Chegou à prestigiada etiqueta Blue Note na década de 1960, para gravar "Unit Structures", em 1966, no qual, conjugando blues, improvisação e as expressões mais contemporâneas da música erudita, libertou os seus músicos e desafiou ainda mais as estruturas do jazz.
"Unit Structures" reúne os mais próximos colaboradores do pianista, com quem trabalhava desde o início da década - o trompetista Eddie Gale, os saxofonistas Jimmy Lyons e Ken McIntyre, os contrabaixistas Henry Grimes e Alan Silva e, sobretudo, o baterista Andrew Cyrille. Eles constituíam as diferentes "Units", as 'unidades' de estudo, de investigação, que "abriam caminho".
Mais do que enquadrar-se na corrente do free jazz da época, mais do que fazer parte do movimento, Taylor "liderava o percurso", lê-se no "Guia Penguin do Jazz", sobre este álbum do pianista. "Na verdade, é possível argumentar com segurança que ninguém [então] se aproximava da ferocidade e intensidade de Cecil Taylor".
Em 1967, surgiria "Conquistador!", ainda na mesma linha, quase com os mesmos músicos. Mas o trabalho a solo de Cecil Taylor ganhava terreno e tornar-se-ia dominante nas décadas seguintes.
Surgiram assim, entre outros, "Carmen With Rings" (1967), "Indent" (1973), "Silent Tongues" (1974), "Garden" (1982), ""Erzulie Maketh Scent" (1989) e, mais tarde, "The Tree of Life" (1998).
Na década de 1990, com o contrabaixista William Parker e o baterista Tony Oxley, gravou "Looking (Berlin Version)" (1990) e "Celebrated Blazons" (1993).
Um pouco antes houve ainda "In Berlin '88", recolha traduzida em onze CD, gravados com diferentes formações e diferentes músicos, como Derek Bailey, Evan Parker ou Han Bennink, além de Dewey Redman e Elvin Jones, que dariam origem a "Momentum Space". "In Berlin '88" seria retomado numa edição especial, em 2015.
Nos anos de 1990 e 2000, apresentar-se-ia com o Cecil Taylor Ensemble e a Cecil Taylor Big Band, mas também retomaria o contacto com outros históricos do jazz, como o baterista Max Roach ou o vibrafonista Joe Locke, em duos menos convencionais.
Cecil Taylor “começou a tocar piano de uma maneira diferente, por volta de 1958, na senda do Theolonius Monk”, disse à Lusa o programador do Jazz em Agosto, Rui Neves, em 2011, dias antes da derradeira atuação do pianista em Portugal.
Para o programador do Festival, Taylor foi o criador da sua própria linguagem - "uma nova linguagem” -, que se caracterizava por “aquele estilo do piano muito percutido, aquelas frases [musicais] angulares”.
Do pianista Craig Taborn à banda Yo La Tengo, são muitos os que citam Cecil Taylor como referência, sem esquecer o pianista português Rodrigo Pinheiro.
Cecil Taylor atuou pela primeira vez em Portugal há 30 anos, em 1988, no Jazz em Agosto, em Lisboa, com Roger Woodward. Regressou em 1999, para um concerto a solo no Jazz no Parque, em Serralves, no Porto. Em 2004, voltou à capital, para tocar em duo, com Tony Oxley, no Centro Cultural de Belém.
Em 2011, o Jazz em Agosto dedicou-lhe o documentário “Cecil Taylor: All the Notes”, de Christopher Felver, e acolheu a conferência “The world of Cecil Taylor”, de Bill Shoemaker.
Na noite de 05 de agosto desse ano, o pianista abria o festival, num concerto a solo, em que também dançou e leu os seus poemas.
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