Interpretada por Silvia Calderoni, “MDLSX” traduz uma história de "violência, dor, confusão e aceitação", sobre identidade, transformação e o ser-se outro, para lá da cor da pele, do sexo, de uma nacionalidade imposta ou adquirida.
Por isso, “MDLSX” também transcende as categorias artísticas, pode ser teatro, pode ser dança, pode ser uma “performance-monstra", em que a atriz Silvia Calderoni cumpre um 'set' de DJ/VJ, mas também faz um monólogo, assume uma declamação e cumpre um espetáculo coreografado de uma só pessoa, que cruza autobiografia, evocações literárias, ficção e realidade, , com um dispositivo sonoro "explosivo".
Obras de Judith Butler, Donna Haraway, Paul B. Preciado cruzam-se com clássicos da literatura, músicas de bandas como Vampire Weekend, Talking Heads, R.E.M. e The Smiths, combinam-se com referências do caleidoscópico 'queer', e tecem o pano de fundo da 'performance' de Calderoni.
Velhas fotografias e vídeos familiares revelam o passado de uma "Maria Rapaz" que esconde o rosto sob o cabelo, que depois se revela uma adolescente mais alta do que as demais, de aspeto um pouco andrógeno, sobre a qual caem todas as dúvidas de identidade.
Quando da apresentação da peça no Festival de Adelaide, na Austrália, no ano passado, o jornal The Guardian deu quatro em cinco estrelas a “MDLSX” e destacou a interpretação de Silvia Calderoni, assente no "uso do próprio corpo, para contar uma história de violência, dor, confusão e aceitação", que culmina na grande dúvida: "Pode [cada um] ser ele mesmo, sem escolher um género ou o outro, e apenas ser?".
A companhia Motus, com mais de 25 anos de atividade, é reconhecida pelo impacto físico e emocional das suas peças, antecipando e retratando algumas das mais duras contradições da atualidade.
Fundada por Enrico Casagrande e Daniela Nicolò, em Rimini, Itália, em 1991, somam mais de 60 encenações originais de autores como Samuel Beckett, Jean Genet, Rainer Werner Fassbinder, Reiner Maria Rilke, Don DeLillo, James Graham Ballard, Philip K. Dick, Jack London ou Henry David Thoreau, assim como o seu "autor amado" Pier Paolo Pasolini, que os conduziu à reinterpretação radical de “Antígona”, à luz da crise grega.
Na última década, a atriz Silvia Calderoni, uma das mais premiadas de Itália, conhecida pelo desempenho no filme "A lenda de Kaspar Hauser", tem sido a "incansável protagonista" da companhia.
Em quase 27 anos de atividade a Motus apresentou-se em palcos de diferentes países, e acumulou numerosas distinções, entre as quais três prémios UBU, prémios da crítica em Espanha e no Canadá.
A companhia esteve em Portugal em 2011, no âmbito do festival Escrita na Paisagem, em Évora.
A encenação é de Enrico Casagrande e Daniela Nicolò, e a dramaturgia de Daniela Nicolò e Silvia Calderoni.
No dia 17, a 'performance' é apresentada às 21:30 e, no dia 18, às 17:00.
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