Nesta peça, a Umbigo Companhia de Teatro "revisita" a noite de 26 de abril de 1916, quando Mário de Sá-Carneiro se suicidou num hotel, em Paris.
"Fim" - o emblemático poema do escritor modernista e um dos mais reputados membros da Geração de Orpheu - abre a peça em que, pelas palavras de José Régio, se conta que afinal Sá-Carneiro "foi suicidado".
"Quando eu morrer batam em latas/rompam aos saltos e aos pinotes/façam estalar no ar chicotes/chamem palhaços e acrobatas!" - escuta-se a abrir a peça sobre a última noite do poeta.
"Que o meu caixão vá sobre um burro/ajaezado à andaluza/ a um morto nada se recusa/ E eu quero por força ir de burro!..." - assim termina "Fim", o poema de Mário de Sá Carneiro com que Rogério Paulo, responsável pela encenação, resolveu abrir a dramaturgia.
Nesta peça, e segundo o texto de José Régio, Mário de Sá-Carneiro não se suicida. É antes 'suicidado' pelo alter-ego que nele habita.
"O outro, ele próprio, o espelho da mente instável e revoltada que habita no poeta", como disse à Lusa Rogério Paulo.
Em "Mário ou eu próprio-o-outro", as duas personagens atuam através das palavras e dos jogos visuais em que se vão criando jogos de conflitos, de submissão, de superioridade e de loucura.
Duas personagens que, apesar de tudo, não procuram ser o posto um do outro, mas sim a personificação dos desejos e das diferenças ansiados por Mário de Sá-Carneiro, referiu o encenador. "Mário de Sá-Carneiro foi dando vida ao outro que morava em si, o outro que acabou por matá-lo".
Interpretada por Anouschka Freitas e Ricardo Barceló, a encenação desta peça é um desejo que Rogério Paulo acalentava "há nove, dez anos", disse. Acabou por propô-la ao Teatro da Trindade, assim que Diogo Infante assumiu a direção da instituição.
"Foi aprovada e aqui estamos a fazê-la pouco depois de se terem assinalado os 100 anos da morte do poeta", acrescentou.
Com grafismo de Roger e produção artística da Umbigo, "Mário ou eu próprio-o-outro" tem produção executiva de Margarida Barata e produção da Resto de Nada - Associação Cultural.
A peça vai estar em cena na sala Estúdio do Teatro da Trindade até 3 de junho, com espetáculos de quinta-feira a sábado, às 21:45, e, aos domingos, às 17:00.
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