Maria João Pires irá "tocar em todas as datas” do festival, disseram à Lusa responsáveis do Centro de Artes de Belgais, referindo-se ao novo ciclo de concertos, que se prolonga de 14 de junho a 15 de setembro, e que sucede a "O Fio do Danúbio", iniciado em janeiro.
A realização dos concertos em Belgais acontece a par de atuações de Maria João Pires fora do país, nomeadamente na 68.ª edição do Festival Internacional de Santander, em 26 de agosto, como anunciou esta semana a organização do festival espanhol, e no âmbito das conferências "Cuidar da Vida" ("Prendre soin de la vie"), que têm lugar na Sinfónica de Montréal, no Canadá, no próximo dia 13, para as quais a pianista concebeu um "concerto-meditação", com o monge budista Matthieu Ricard.
Durante o verão, Belgais "irá acolher concertos ao ar livre, evocando não só um universo noturno e onírico, como também o sentimento profundo da natureza, sem a qual não existe elevação espiritual”, lê-se na apresentação do programa.
A versão inicial de "Nuits d'Eté"/"Noites de Verão", que compositor francês Hector Berlioz concluiu em 1841, numa alusão a "Sonho de Uma Noite de Verão", de Shakespeare, serviram de inspiração ao programa dos diferentes concertos.
O primeiro, “Sonata ao Luar”, corresponde aos concertos dos dias 14 e 15 de junho, e “é dedicado aos mistérios da noite e à sede de conhecimento suscitada pela contemplação dos astros".
Inclui "peças noturnas" de John Field, Chopin, Liszt ou Fauré, “mas também obras que evocam o ciclo do zodíaco, como 'Tierkreis', de Stockhausen", que "irão compor o quadro de uma espécie de sonho cósmico”.
O segundo programa, “O Espírito do Tempo”, para os concertos dos dias 19 e 20 de julho, pretende “refletir a conversão das sensações corporais em mediação interior e espiritual”, com obras de Arvo Pärt, Komitas ou Johann Sebastian Bach.
O terceiro, nos dias 16 e 17 de agosto, exatamente “Sonho de Uma Noite de Verão”, segue os passos de Felix Mendelssohn, com a sua música de cena de 1827, inspirada na peça homónima de Shakespeare. O programa envolve “peças para piano e transcrições", para celebrar "a obra deste compositor emblemático da sensibilidade romântica”.
A última etapa do Festival de Verão, nos dias 14 e 15 de setembro, tem por lema “Canto da Terra”, e “é uma celebração da voz", com "um repertório de peças vocais de Grieg, Mendelssohn e Mahler", a interpretar por um coro de vozes iguais, masculinas, a "demonstrar que qualquer perceção sensível e espiritual assenta na harmonia do corpo humano com a mãe natureza”, descreve o Centro de Artes.
O programa "O Fio do Danúbio", iniciado em Belgais, em janeiro, tem ainda mais duas 'escalas' com Maria João Pires, nos recitais dos dias 27 e 28 deste mês, "Em direção à Hungria", e nos dias 18 e 19 de maio, "De Budapeste ao Delta". Todos os concertos se encontram esgotados.
"O Fio do Danúbio" foi anunciado no final do ano passado, depois dos concertos de Natal e de Ano Novo, que marcaram o regresso de Maria João Pires a Belgais.
A escolha de Belgais é uma opção deliberada da pianista pelo isolamento, segundo a apresentação do centro, na Internet. “Uma escolha desafiante e difícil, que parecia necessária para a plena implementação das conceções musicais e humanísticas” de Maria João Pires.
Belgais, no distrito de Castelo Branco, “é uma história: dezenas de oficinas, desde o início de 2000, mas também conferências, concertos, performances e até uma ópera, 'Dido e Aeneas', produzida em completa autonomia”, recorda o centro.
É também “um laboratório” e “um futuro”, pois é “um palco em constante movimento, em permanente reinvenção, pronto para receber músicos e visitantes, para oferecer momentos de excecional densidade humana e artística”.
Maria João Pires, de 74 anos, natural de Lisboa, é a mais internacional pianista portuguesa da atualidade. Em 1970, venceu em Bruxelas o Concurso Internacional do Bicentenário de Beethoven, consolidando o início da sua carreira internacional.
Em 1989 recebeu o Prémio Pessoa. O Governo português, em 1983, condecorou-a com o grau de dama da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, em 1989 como Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique, e em 1998 recebeu a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.
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