Trata-se de um projeto “antigo, com três anos”, de trabalhar o escritor russo Anton Tchekhov (1860-1904), disse à agência Lusa Bruno Bravo, diretor artístico da companhia, acrescentando que Luis Miguel Cintra foi o ator que sempre lhe ocorreu para interpretar a personagem do professor Serebriakov, desde que pensou em fazer a peça.
Luis Miguel Cintra estreia-se assim a representar esta personagem de Tchekhov, na peça do dramaturgo russo que não pôs em cena, enquanto dirigiu a Cornucópia.
“É um ator que admiro muitíssimo e que tem um papel absolutamente fundamental no teatro em Portugal”, disse Bruno Bravo, justificando a escolha do antigo diretor do Teatro da Cornucópia.
“Convidámo-lo e ele aceitou o convite”, observou.
O desejo de voltar à dramaturgia de Tchekhov remonta há oito anos quando, pela primeira vez, os Primeiros Sintomas representaram uma peça curta do dramaturgo russo, “Um pedido de casamento”.
Agora a peça teria de ser “Tio Vanya”, por ser, de todas as escritas por Tchekhov, “a que melhor sintetiza os aspetos encontrados noutras peças”, referiu.
A ação desenrola-se em finais do século XIX, numa casa de campo onde residem Vanya e a sobrinha, filha do professor Serebriakov, de Moscovo, fruto do primeiro casamento deste. A esta casa chega o professor Serebriakov com a sua jovem esposa Elena.
Com a sua chegada, a vivência da casa passa a pautar-se por anseios, esperanças, frustrações e tentativas de mudança, sem que nada chegue a mudar de verdade.
O diretor da companhia, agora com sede no CAL, disse à Lusa que a história acaba por encerrar muitas das questões da existência humana.
“É como se assistíssemos a uma espécie de suspensão no tempo”, afirmou. Esta peça adequa-se também à fase que os Primeiros Sintomas estão a viver.
A atualidade da obra escrita pelo autor de “As três irmãs” – e que teve a primeira grande representação no Teatro de Arte de Moscovo, em 1899, com encenação de Constantin Stanislavski -, foi aliás outro dos fatores que levou Bruno Bravo a encená-la.
O dinheiro, a impossibilidade de as pessoas se relacionarem umas com as outras, os desencontros, o sentido da vida são algumas das questões abordadas.
“Uma peça um pouco depressiva ou um pouco desesperançada”, classificou-a Bruno Bravo.
Com “Tio Vanya” a companhia estreia-se no CAL, depois de ter saído de uma pequena sala no Cais do Sodré, onde estive oito anos.
A peça vai estar em cena no CAL respeitará a escrita pelo autor de “A gaivota”, e tem tradução do original de Miguel Castro Caldas, disse o diretor artístico da companhia.
“Tio Vanya” vai estar em cena até 16 de março, com espetáculos de quarta a sábado, às 21:30 e, aos domingos, às 17:00.
A peça é interpretada por António Mortágua, Carolina Sales, Ivo Alexandre, Joana Campos, Luis Miguel Cintra, Nadezhda Bocharova, Nídia Roque e Paulo Pinto.
A música é de Sérgio Delgado.
A Cornucópia fechou em dezembro de 2016 depois de mais de 43 anos de existência, sob a direção de Luis Miguel Cintra.
Após o fecho do Teatro do Bairro Alto, Luis Miguel Cintra representou "Um D. João português", uma peça que percorreu várias localidades portuguesas, desde o primeiro semestre de 2017, e que teve última representação em março do ano passado, no Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada.
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