“Os textos aqui reunidos são testemunhos de um largo campo de assuntos, abordagens, dimensões e estilos, através de eras e lugares, sinais de um escritor que declaradamente prefere viajar no discurso e decurso do tempo e do espaço, a fazê-lo em itinerários geográficos, programados e turísticos”, afirma no prefácio o jornalista Francisco Belard.
Belard chama à atenção, no seu “prefácio (ou tentativa)”, para “o olhar crítico (mas também o ouvido, porque Mário de Carvalho é um constante espetador e ouvinte) do autor que passa bem as fronteiras dos géneros literários", destacando que "a sua coerência de escritor convive com a maleabilidade estilística nas linguagens que o habitam”.
Referindo-se à capacidade narrativa de Mário de Carvalho, autor de mais de 30 títulos, entre contos, novelas e romances, Francisco Belard escreve que nela coexistam referências latinas com arcaísmos e medievalismos, “ecos oitocentistas com neologismos bem recentes, ou regionalismos com moderado cosmopolitismo – não o postiço e snob, adulador ou exibicionista”.
O título, “O que eu ouvi na barrica das maçãs”, é retirado de “A Ilha do Tesouro”, de Robert Louis Stevenson, e que servira já para titular a rubrica quinzenal de crónicas do escritor, no jornal Público, uma das fontes de alguns dos textos que o compõem.
Além das crónicas que escreveu entre 1992 e 1993 e, mais tarde, em 1996, neste diário, outra fonte foi o lote de crónicas mensais que manteve entre 1987 e 1989, no Jornal de Letras Artes & Ideias (JL), sob o título “Eu diria que…”.
Quanto à seleção, o editor, num texto prévio explica: “Selecioná-las, entre outras soltas que por aí havia, foi árdua tarefa”, e estando garantida a qualidade literária, houve que encontrar outros critérios, nomeadamente, retirar “algumas crónicas mais datadas, com referências específicas a temas que já não são atuais”, tendo-se mantido “outras capazes de ilustrar como a História é cíclica e alguns autores, proféticos”.
Com o intuito de criar uma coerência narrativa, o editor optou por agrupar as diferentes crónicas em quatro atos, “representando quatro facetas do escritor: o ficcionista, o cidadão, o comunicador e o memoralista”.
O livro que pela primeira vez reúne as crónicas do autor de “Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde”, é apresentado pelo humorista e cronista Ricardo Araújo Pereira na próxima quarta-feira, pelas 18:30, no El Corte Inglés, em Lisboa.
Sobre as crónicas incluídas na obra, Francisco Belard realça que nelas coexistem “o erudito e o vernáculo com os plebeísmos, tal como os refúgios culturais não isolam [Mário de Carvalho] das conversas de táxi”.
Sobre a narrativa de Mário de Carvalho, Belard atesta: “A sua riqueza vocabular ensina sempre umas palavras. E o seu registo não ficcional mantém abertas portas da memória e janelas para antevisões, por vezes em feliz contrabando contra a tirania da atualidade que pode sufocar a escrita de jornal”.
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