O cravista norte-americano, em declarações à agência Lusa, afirmou que vai apresentar um programa dedicado a 11 compositores do barroco francês, intitulado "Les Elements, Pièces de caractères", com obras marcadas pelo seu poder narrativo, na representação de objetos, ideias ou emoções.
O programa é constituído por obras de Rebel, Sainte-Colombe, Louis, Armand-Louis e François Couperin, Jean-Philippe Rameau, Joseph Bodin de Boismoitier, Jean-Henri d'Angleterre, Jean François d'Andrieu, François d'Agnicourt e Louis-Claude Daquin, cobrindo um período que vai do barroco intermédio, no século XVII, à síntese tardia do século XVIII, contemporânea do cravo Taskin, do MNM.
O Cravo Taskin foi construído por Pascal-Joseph Taskin, em 1782, em resposta a uma encomenda do rei Luís XVI, de França, para o oferecer à sua irmã Ana Clotilde, tendo posteriormente sido propriedade da Casa Real de Saboia.
No século XX, ficou na posse do último rei de Itália, Humberto II, que, quando se exilou em Portugal, o ofereceu à marquesa do Cadaval, Olga Pereira de Melo (1900-1996), em agradecimento por ter recebido a sua família em sua casa.
Os herdeiros da marquesa pretenderam vender o Cravo Taskin num leilão, em Londres, em 2001, tendo o Estado português evitado a sua saída do país, ao adquiri-lo. Passou então a fazer parte das coleções do MNM.
Sobre o restauro, a diretora do MNM, Graça Mendes Pinto, disse em abril à Lusa que “primeiro foi necessário analisar e verificar o que era necessário para que ele voltasse a tocar - e com o som de um cravo deste período e deste construtor”.
Atualmente em “perfeitas condições para recitais”, segundo Graça Mendes Pinto, o cravo é “inaugurado” por Weiss, um dos cravistas de maior renome internacional, que à agência Lusa afirmou que a sua “abordagem inicial vai ser de veneração, e só, então, encontrar a melhor maneira de o fazer soar novamente”.
Para este recital, no sábado, às 18:00, no MNM, “o programa foi cuidadosamente construído para contar uma história”, disse Weiss à Lusa.
“O programa que vou realizar intitula-se ‘Les Elements, Pièces de caractères’. Um género musical francês constituído por obras narrativas que retratam objetos, ideias e emoções. Selecionei vinte trabalhos de onze compositores para contar uma história abrangente que retrata conceitos que vão desde o fogo a uma pulga, para mostrar este género musical rico e único”, disse.
“As obras que vou tocar estão entre as peças que teriam sido executadas no Taskin, quando ele foi construído”, acrescentou.
O Cravo Taskin está classificado como Tesouro Nacional e, para o músico, “há sempre uma sensação de grande entusiasmo antes de tocar um cravo antigo”.
O Taskin está impregnado dos “pensamentos dos músicos de há centenas de anos, que expressaram as suas alegrias e tristezas naquele mesmo instrumento, [o que provoca] um sentimento duplo de humildade e, ao mesmo tempo, inspirador”, disse Kenneth Weiss.
O músico revelou à Lusa que projeta gravar em breve no Taskin, não tendo adiantado datas ou o programa que interpretará.
De Lisboa, onde já tocou várias vezes, Weiss recorda “uma audiência atenta, simpática e conhecedora”.
Depois de Lisboa, Kenneth Weiss vai atuar no Lincoln Center, em Nova Iorque.
Weiss frequentou a High School of Performing Arts, em Nova Iorque, onde nasceu, estudou com Lisa Goode Crawford no Oberlin Conservatory, e com o cravista, regente e musicólogo Gustav Leonhardt, pioneiro do movimento da interpretação historicamente informada, no Sweelinck Conservatorium, em Amesterdão.
Foi assistente do maestro William Christie e da sua orquestra de época, Les Arts Florissants, no início dos anos de 1990.
O cravista reparte a carreira entre recitais, música de câmara, ensino e regência. Recentemente tocou em Nuremberga, Montpellier, Barcelona, Dijon, Genebra, Antuérpia, Paris, Madrid, Santander, San Sebastián, Innsbruck, Santiago de Compostela e Bruges, entre outras cidades.
Em 2014, publicou “O Cravo Bem Temperado”, de Bach, gravado no histórico Ruckers-Taskin do Museu da Música da Cité de la Musique, em Paris.
O processo de restauro do Cravo Taskin, do museu português, profusamente decorado com motivos orientais, desenvolveu-se em várias fases e exigiu colaborações de diferentes especialistas, que se reuniram em Portugal.
Este processo foi da responsabilidade do restaurador Ulrich Weimer, que há muito trabalha com este tipo de cordofones, e já tinha restaurado um outro cravo Taskin.
Weimer, que chegou a trabalhar doze horas consecutivas no instrumento, é o responsável pela parte organológica, tendo realizado todos os trabalhos de análise, filmagem e de colocação de cordas.
Geert Karman, um restaurador com oficina nos arredores de Lisboa, que também trabalha habitualmente com o MNM, ficou responsável por um novo conjunto de saltarelos do instrumento (os antigos estão preservados), pela harmonização e a afinação (o saltarelo é uma peça que se eleva, quando uma tecla é pressionada, pondo o plectro em contacto com a corda, provocando a sua vibração).
A parte estética e solidez do instrumento ficaram a cargo do laboratório José de Figueiredo, em Lisboa.
O laboratório tem equipas especializadas nas diferentes áreas, desde as madeiras ao entalhamento, passando pela pintura, o douramento e a talha dourada.
“Foi um processo muito cuidadoso, que teve em conta não ser intrusivo, retirou antigos restauros abusivos, nomeadamente as purpurinas utilizadas para substituir a folha de ouro”, disse Graça Mendes Pinto.
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