Cerca de 30 actores leram na passada quarta-feira (dia 18), em Viena, capital da Áustria, excertos do julgamento por violação, ocorrido em França, de Gisèle Pelicot, numa obra com duração até sete horas que será apresentada no Festival de Teatro de Avignon.

O suíço Milo Rau, encenador da peça, explicou que se trata "de uma extensão do acto de Gisèle Pelicot", que, "num momento decisivo", recusou que o julgamento decorresse à porta fechada, abdicando assim do seu direito ao anonimato para que a vergonha mudasse de lado.

Gisèle Pelicot, de 72 anos, foi amplamente aclamada no ano passado pela coragem demonstrada durante o processo contra o seu ex-marido, Dominique Pelicot, também com 72 anos, que a drogou ao longo de uma década para a violar juntamente com desconhecidos.

O seu ex-marido e outros 50 homens foram condenados em dezembro a penas até 20 anos de prisão. O julgamento transformou Gisèle num símbolo feminista, e algumas das suas declarações correram o mundo.

A apresentação, descrita por Rau como uma "homenagem a um ícone", começou em Viena às 21h numa igreja da cidade, onde o público entrou e saiu livremente.

Rau, de 48 anos, acompanhou de perto os debates em torno do julgamento realizado em Avignon, no sudeste de França, entre setembro e dezembro de 2024. Posteriormente, mergulhou na documentação do caso para "tornar público o julgamento", tal como Gisèle procurou fazer.

Para isso, realizou um trabalho minucioso de "reconstrução", com o apoio dos advogados da família, reunindo diferentes "fragmentos" da história através de artigos de imprensa, cadernos de jornalistas, entrevistas com especialistas, livros, alegações e testemunhos de feministas.

A peça será apresentada no Festival de Avignon, numa versão abreviada, a 18 de Julho, que contará com a participação de figuras ligadas ao julgamento, como um psiquiatra e um ilustrador da sala.