“É rigorosamente verdade” que na semana da montagem da exposição houve interferência da montagem, contou João Ribas, especificando dia por dia os acontecimentos.
Segundo o responsável, a exposição começou a ser montada no dia 15 e no dia 17 foi “chamado para construir um muro para separar algumas obras”.
No dia 18, João Ribas diz que foram “relocalizadas” as obras e no dia 19 chegaram “representantes da fundação norte-americana [Robert Mapplethorpe] e a palavra cancelar foi referida”.
“No dia 20, duas obras foram mandadas retirar uma hora antes da conferência de imprensa, a que várias pessoas assistiram e que foram registadas pelas câmaras de videovigilância”, acrescentou.
João Ribas classificou estes como “atos de censura” e explicou que se demitiu porque “não podia tolerar censura” numa das mais importantes instituições culturais da Europa.
O diretor artístico respondia a Jorge Campos, do Bloco de Esquerda, que quis saber como é que se justifica que um dia após a abertura da exposição o diretor tenha apresentado a demissão, se tem prova de que essa intromissão se passou, se tem testemunhas ou se as intervenções foram filmadas por câmaras de vigilância.
João Ribas explicou que apenas duas peças da exposição de Mapplethorpe foram retiradas por imposição, as restantes 18 foram resultado de uma consequente reorganização da mostra. Houve “duas obras obrigadas a retirar, as outras resultam da relocalização”.
“Estamos a falar de reprovação de obras de nu. Não se pode admitir. As duas que fui obrigado a retirar. Não estamos a falar de teor de sexo explícito”, sublinhou.
As duas obras em causa foram “Larry”, de 1979, e “Dennis Speight”, de 1980.
“Quando há ingerência, algumas obras não podem ser colocadas em certos sítios. Esse conjunto [de 20 obras retiradas] resulta da retirada das outras duas e da consequente reorganização”, afirmou.
“Uma hora antes da conferência de imprensa, as obras não foram permitidas ser vistas pelo público. Sou obrigado a retirar duas obras”, reafirmou.
A comissão de Cultura da Assembleia da República está hoje a ouvir João Ribas e o conselho de administração da Fundação de Serralves, por requerimentos do Partido Socialista e do Bloco de Esquerda a propósito da demissão do diretor artístico do museu localizado no Porto.
O diretor do Museu de Arte Contemporânea de Serralves demitiu-se a 20 de setembro, após a inauguração da mostra “Robert Mapplethorpe: Pictures”, que comissariou, por entender que não tinha condições para prosseguir o trabalho, depois de terem sido definidas zonas reservadas na exposição, e de o seu universo ter sido reduzido de 179 para 159 obras.
Fotografias de nus, flores, retratos de artistas como Patti Smith ou Iggy Pop, e imagens de cariz sexual compõem a primeira exposição em Portugal do fotógrafo norte-americano, que reservou uma das salas a maiores de 18 anos, com obras consideradas mais sensíveis.
Ribas disse, num comunicado divulgado no dia 27 de setembro, que se demitira por entender que "não é admissível que a liberdade e a autonomia do diretor sejam desrespeitadas", defendendo que o cargo “é incompatível com ingerências, pressões ou imposições que limitem a sua autonomia técnica e artística”.
O curador adiantou que, ao programar “Pictures”, de Mapplethorpe, “restrições e intervenções", por parte da administração da fundação, levaram a "um ponto de rotura".
O conselho de administração da Fundação de Serralves, por seu lado, garantiu não ter mandado retirar qualquer obra da exposição do fotógrafo Robert Mapplethorpe, num encontro tido com a imprensa.
“Em Serralves não há, nem nunca houve censura, nem nunca sob a nossa responsabilidade haverá censura. Mas também não haverá complacência com a falta de verdade, nem fuga às responsabilidades”, disse a presidente de Serralves, Ana Pinho.
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