“Não me pesa nada que ela tenha feito esta peça. São 'pennies from heaven'. São 'tostões do céu'”, disse Lia Gama, que volta a subir ao palco do TEC, o que não fazia desde 1991, ou “por volta" desse ano.
Mostrou-se, contudo, satisfeita por ir representar uma personagem interpretada pela atriz britânica que muito admira e que considera excelente profissional, conhecida em Portugal por papéis no cinema, como "Filomena" e "O Exótico Hotel Marigold".
Sobre o regresso ao TEC, a convite de Carlos Avilez – o encenador com quem trabalhou mais tempo -, Lia Gama disse ser “muito bom e muito agradável”. “Parece que foi ontem. É-me familiar, é-me tudo familiar, é bom, muito bom”, enfatizou.
A última vez que Lia Gama subiu a um palco - que fez teatro - foi há cerca de três anos quando, no Municipal Maria Matos, em Lisboa, protagonizou “Uma mulher sem importância”, de Oscar Wilde, numa encenação de Joaquim Horta.
“Isto agora é cada vez mais escasso os atores irem ao teatro; não há teatro”, frisou.
"O facto de haver companhias de teatro sem elencos e de ninguém querer atores e atrizes com uma determinada idade" são algo que irrita Lia Gama. Tal como o facto de “não haver teatro” atualmente, como insistiu várias vezes.
“A verdade é que não há teatro. Nem o [Teatro] Nacional tem uma companhia. O que é absolutamente indescritível. E fazem coisas muito bonitas, mas com os amigos”, frisou.
Lia Gama lamentou ainda que o teatro em Portugal “esteja na situação em que está”, atribuindo-a à ausência de uma política cultural.
“Tem de se ir a Madrid para ter o teatro clássico, chamemos-lhe o teatro 'off': operetas, comédias musicais, zarzuelas, teatros nacionais com repertório e companhias”, referiu.
A atriz lamentou ainda o facto de haver muitos teatros em Lisboa, mas muitos continuarem fechados.
Exemplificou com o caso do Teatro do Bairro Alto – “Fechou a Cornucópia, mas o Bairro Alto continua por abrir” – e do Maria Matos.
“O primeiro já tem programador, que esses estão sempre bem. Estão sempre a ganhar o dinheiro deles”, disse.
E defendeu a necessidade de existirem mais produtores de teatro em Portugal.
“No meu tempo chamavam-se empresários”, referiu Lia Gama, que acredita que também deve haver teatro pago pela bilheteira.
“A cultura é que não se paga a si própria”, defendeu.
Outra fonte de angústia para Lia Gama reside no facto de as peças estarem muito pouco tempo em cartaz, o que não é agradável para os artistas.
“Somos ricos, é para mostrar serviço quem está à frente”, referiu com ironia, acrescentando que há muita coisa, mas que “a maior parte são estrangeiras”.
Estou “bastante desiludida com o que acontece”, confessou a protagonista de “Kilas, o mau da fita”, filme de José Fonseca e Costa.
Questionada sobre se havia algum papel que gostasse de interpretar, Lia Gama referiu nunca ter sido pessoa de gostar de fazer determinada peça ou determinada personagem. Admitiu, porém, que “A Celestina”, de Fernando de Rojas, era uma peça que gostava de fazer, até porque, para a idade que tem, não há muitas peças em repertório, admitiu.
Nervosa com a estreia de "Peter e Alice", do norte-americano John Logan, e feliz por voltar a palco, Lia Gama não hesita em admitir que o que a faria mesmo feliz era que houvesse coragem para se pôr em prática uma política cultural.
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