"Ainda bem que estamos aqui todos porque significa que temos o nosso coração em Moçambique. Ao passar vi muita gente que veio de Moçambique. E há muitos que não são de Moçambique, não são moçambicanos, mas sentem como se fossem moçambicanos", assinalou Marcelo Rebelo de Sousa no arranque do concerto de angariação de fundos "Mão Dada a Moçambique", que decorreu no Cineteatro Capitólio, em Lisboa, esta terça-feira.
"Estamos juntos, isto é apenas o começo de uma caminhada porque a reconstrução é longa. Não é o fim do caminho, é o começo do caminho", sublinhou o Presidente da República no início do espetáculo que juntou mais de 50 artistas lusófonos e acabou por angariar 312 mil euros para sete associações.
A cantora de origem moçambicana Selma Uamusse, que idealizou a iniciativa, também agradeceu a solidariedade dos portugueses na abertura do espetáculo transmitido em direto pela RTP1 e Antena 1. "Acho que isto nos faz voltar a acreditar que é possível sermos solidários e é importante continuarmos a acreditar que as instituições têm um trabalho fundamental. Nós, enquanto artistas, só estamos a dar a cara pelo trabalho que todas estas instituições estão a fazer no terreno, e elas é que merecem a nossa salva de palmas", referiu.
Selma Uamusse inaugurou as atuações da noite ao lado do Gospel Collective com a canção "Hope". Ana Moura, com uma versão de "A Change Is Gonna Come", de Sam Cooke, e Matay, que interpretou "Não Chores Mais", de Agir, também foram dos primeiros a subir a palco. Luísa Sobral, Salvador Sobral, Sara Tavares, The Legendary Tigerman, Conan Osíris, HMB, Dino d' Santiago, Mistah Issac, Anastácia Carvalho, Karyna Gomes, Rodrigo Leão, Celina da Piedade, Maria João, Rita Redshoes e We Trust contaram-se entre as dezenas de artistas do concerto.
Selma Uamusse mobilizou, em 24 horas, dezenas de músicos e recursos humanos, técnicos e logísticos. A emissão especial decorreu entre as 10:00 e as 00:00 na RTP 1 e na Antena 1, com o objetivo de "angariar o máximo possível de receitas, a distribuir equitativamente entre sete das associações que se encontram no terreno a prestar assistência às centenas de milhares de vítimas", pode ler-se no comunicado da RTP.
A iniciativa incluiu ainda uma linha de valor acrescentado (chamada no valor de 1 euro + IVA), 761203040, criada em especial para o efeito e em vigor até ao dia 5 de abril, e um ‘call center’ para que pessoas fora de Portugal ou que queiram contribuir com um valor superior, possam dar o seu contributo.
As sete associações beneficiárias são a Fundação de Assistência Médica Internacional (AMI), Cáritas Portuguesa, Cruz Vermelha Portuguesa, Médicos Sem Fronteiras, Associação HELPO, a Fundação Girl Move, e a ACRAS - Associação Cristã de Reinserção e Apoio Social.
"As Nações Unidas estão a coordenar tudo o que é público, ONG e privado", garante Marcelo
O Presidente da República chegou ao Capitólio a pé, dirigiu-se à bilheteira e comprou o bilhete para assistir ao concerto solidário.
Depois, aproveitou para comprar também quatro exemplares da edição especial da revista Visão, cujas receitas revertem totalmente para a missão da Cruz Vermelha em Moçambique. "Fica uma para mim, outra para o meu filho, outra para a minha filha e outra para o meu neto preferido, que é o mais velho", confidenciou o chefe de Estado.
Questionado sobre se sentiu o dever de apoiar esta causa, Marcelo foi taxativo: "Claro, tinha de ser".
"Ainda há dias, o Presidente Nyusi, ao agradecer a presença das Forças Armadas, da Proteção Civil, de muitas ONG [organizações não-governamentais], dizia que os portugueses, como sempre, ultrapassam as expectativas e foi o que aconteceu lá e cá", sustentou.
Relativamente ao problema de existirem dificuldades em fazer chegar os donativos ao destino, o chefe de Estado mostrou-se convicto de que "ali chegam".
"Está acautelado. Em primeiro lugar porque a Cruz Vermelha tem vindo a canalizar esses donativos, e porque há uma estrutura orgânica, coordenada, lá em Moçambique, que controla cuidadosamente tudo o que entra. As Nações Unidas estão metidas e estão a coordenar tudo o que é público, ONG e privado", revelou.
Marcelo Rebelo de Sousa rejeitou ainda que problemas com outras campanhas possam colocar em causa a solidariedade dos portugueses e desencorajar donativos para Moçambique.
"Acho que não, porque em relação àquilo que correu mal, eu tenho a esperança que venha a ser apurado o que se passou e o que correu mal. E a Procuradoria-Geral da República já está em cima disso", considerou.
Marcelo Rebelo de Sousa disse ainda que vai esperar pela visita do homólogo moçambicano a Portugal, que deverá acontecer em julho, para decidir se vai a Moçambique em setembro ou no final do ano. "O Presidente Nyusi [de Moçambique] deve vir cá para uma cimeira em julho e, portanto, combinámos que ele aí me diz se eu avanço logo a seguir em setembro ou se espero até ao final do ano", disse o chefe de Estado português aos jornalistas à chegada a um concerto solidário para com Moçambique, que decorre esta noite no Cineteatro Capitólio, em Lisboa.
O número de mortos provocados pelo ciclone Idai e as cheias que se seguiram subiu para 598, anunciaram hoje as autoridades moçambicanas.
O ciclone Idai atingiu a região centro de Moçambique, o Maláui e o Zimbabué em 14 de março.
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