Esta nova edição de “Flores de Música 'pera' o Instrumento de Tecla & Harpa”, de Manuel Rodrigues Coelho (1555-1635), resulta do trabalho editorial do musicólogo e organista João Vaz, com a colaboração dos organistas Sérgio Silva e André Ferreira, e inclui a “’Arte de tanger’, de Gonçalo de Baena, datada de 1540, que contemplava peças impressas em tablatura.
A obra “Flores de Música, que colige peças para instrumentos de tecla - como órgão e cravo - e harpa, teve a primeira impressão em Lisboa, em 1620, e reflete um estilo emergente, da transição da Renascença para o Barroco, colocando Manuel Rodrigues Coelho entre os mestres do contraponto do seu tempo.
A apresentação da nova edição de "Flores de Música", em Mafra, acontece no sábado, às 19:00, pelo organista belga Jean Ferrard, e pelos portugueses João Vaz, Sérgio Silva e André Ferreira, que interpretam algumas peças desta coleção, no órgão da igreja de St.º André, em Mafra.
Esta nova edição de “Flores de Música" será também apresentada na próxima terça-feira, pelas 18:30, na Biblioteca Nacional, em Lisboa, por João Vaz e Jean Ferrard.
Segundo João Vaz, esta nova edição vem “preencher o vazio deixado pela inacessibilidade da anterior, pretende refletir todo o conhecimento adquirido ao longo das últimas décadas sobre Rodrigues Coelho e a sua obra, oferecendo simultaneamente [uma abordagem] eminentemente prática”.
À agência Lusa, João Vaz afirmou que, “tendo em conta o tamanho da obra [mais de quinhentas páginas] e a avançada idade de Rodrigues Coelho, na altura da impressão, esta coleção é provavelmente uma compilação de material produzido ao longo de toda a vida do compositor”.
A nova edição das “Flores de Música” divide-se em três volumes, o primeiro apresentado esta semana, em Mafra e em Lisboa. "Os restantes volumes serão apresentados em 2020, assinalando o quarto centenário da edição original”, impressa nas oficinas do tipógrafo de origem flamenga Pedro Craesbeeck, em Lisboa.
A investigação musicológica indica que Manuel Rodrigues Coelho recebeu, provavelmente, os primeiros ensinamentos musicais na catedral de Elvas, cidade onde nasceu. Há notícia de que trabalhou na catedral de Badajoz, de 1573 a 1577, seguindo-se a cidade natal, até 1602, altura em que se tornou organista de Filipe II, na corte em Lisboa, onde permaneceu até à morte, em 1635.
Toda a obra sobrevivente do compositor está reunida nas “Flores de musica pera o instrumento de tecla & harpa”, que dedicou ao soberano.
“Apesar da importância desta obra – comparável à da ‘Facultad organica’, de Correa de Arauxo (1626), ou das ‘Fiori musicali’, de Girolamo Frescobaldi (1635), a única edição completa existente até agora, preparada por Macário Santiago Kastner e publicada pela Fundação Calouste Gulbenkian, entre 1959 e 1961, [está] esgotada há bastante tempo”, segundo apresentação da obra.
Esta nova edição surge no âmbito da Coleção de Música Histórica de Órgão, cujo editor geral é Jean Ferrard, um projeto da organização das Cidades Europeias com Órgãos Históricos (ECHO), da qual fazem parte Lisboa e, desde 2014, Mafra.
A coleção prevê a publicação de partituras para órgão, apresentadas pelas diferentes cidades membros do ECHO, numa série de dez volumes - dois por ano entre 2018 e 2022 -, que envolverá manuscritos completos, jamais impressos ou esgotados.
A ECHO foi fundada em 1997, sob proposta do organista e investigador italiano Andrea Marcon, pelas cidades de Alkmaar (Holanda), Innsbruck (Áustria), Lisboa (Portugal), Roskilde (Dinamarca), Treviso (Itália), Toulouse (França) e Saragoça (Espanha).
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