Autor de vários estudos sobre a Eurovisão, Jorge Mangorrinha defendeu, após a vitória de Portugal, em 2017, que a organização da edição 2018 do Festival da Eurovisão seria “uma oportunidade estratégica” e que o país beneficiaria de repercussões “muito para além do concurso propriamente dito”.
A poucos dias da final do concurso, que se realizará no Altice Arena, em Lisboa, no dia 12, o investigador sublinha que, para além dos impactos mensuráveis, são já evidentes os ganhos em termos do “orgulho local perante o sucesso português e da capital neste tipo de eventos”, e, por outro lado, o “sentimento despreconceituoso por parte dos portugueses em relação aos festivais da canção”.
Os anos de 2017, pela vitória, e de 2018, pela organização, “podem trazer, no seu conjunto, um valor inestimável de orgulho dos cidadãos, bem como de ambição sem receios por parte da RTP”, apesar de, como tinha concluído no seu estudo, a estação nacional “nunca ter querido verdadeiramente ganhar a Eurovisão, como estratégia, mas apenas estar presente e se possível ir à final e conseguir a melhor classificação”, afirmou à agência Lusa.
Com a vitória de Salvador Sobral, na edição de 2017, a RTP “teve que se render ao sucesso e arregaçar as mangas” na organização conjunta do evento com a União Europeia de Radiodifusão (EBU, na sigla em inglês) e tendo como principais parceiros a Câmara Municipal de Lisboa, a Associação de Turismo de Lisboa e o Turismo de Portugal.
“As evoluções destes dias trazem-nos confiança acerca do balanço positivo [da organização], cujos resultados só são possíveis analisar com rigor no final do evento, para além de que alguns impactos têm um retorno local a médio e a longo prazo” disse o investigador.
Em termos organizativos, RTP e EBU foram ao encontro da visão traçada no estudo em que Mangorrinha defendia a realização do festival em dois polos, o Altice Arena e Terreiro do Paço, bem como uma avaliação às “infraestruturas, transportes, plano de emergência e segurança, hotelaria, cultura, comércio, a animação diurna e noturna e capacidade de carga dos espaços”.
Conclusões “que acabariam por ser integradas no processo eurovisivo de Lisboa” cujos impactos económicos, culturais, ambientais e sociais, diretos e indiretos, hão de ser contabilizados posteriormente.
No que respeita aos impactos culturais, que se prendem com “a difusão do conhecimento e o debate acerca das matérias e temáticas do evento”, Mangorrinha sublinha que “há de facto, debates e edições por estes dias, bem como a promoção da música portuguesa” que incentivam “e geram uma troca capaz de enriquecer ainda mais a cultura portuguesa, com projeção internacional”.
Depois de anos de “continuado insucesso externo da canção portuguesa” terem levado à “perda de interesse generalizado por parte dos portugueses acerca deste evento”, Salvador Sobral e “Amar por dois” alcançaram a vitória que reconquistou o público e trouxe visíveis “impactos positivos para a televisão pública portuguesa”.
O investigador da Universidade Lusófona, com doutoramento e pós-doutoramento nas áreas de Urbanismo e Turismo, que nos últimos anos efetuou um estudo sobre como Lisboa se deveria preparar para receber o festival, defendeu no documento que Portugal pode entrar na história da Eurovisão, organizando o certame a custos inferiores à média dos últimos cinco anos, que ronda os 25 milhões de euros.
O Festival da Eurovisão “é um exercício de superação anual, com base na imaginação, desde logo pelos requisitos tecnológicos que muitas canções já exigem”, mas é também, na ótica do investigador, “um desafio de gestão financeira e de parcerias” que podem transformar os custos organizativos em “custos de oportunidade”, afirmou então à Lusa.
O investigador estudou igualmente as participações portuguesas no festival da Eurovisão e a imagem projetada durante mais de 50 anos, através da iniciativa.
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