Em declarações à agência Lusa, a responsável artística da companhia, Joana Craveiro, acrescentou que o espetáculo em cena no S. Luiz é dirigido a crianças do primeiro ciclo do ensino básico, e encerra o percurso iniciado com “Um museu vivo de memórias pequenas e esquecidas”, uma peça dirigida ao público em geral, estreada em 2014, coproduzida com a Galeria Zé dos Bois, que a acolheu, assim como o teatro municipal da António Maria Cardoso, em Lisboa.
“Era uma vez um país assim: Contar bem contadas a história da ditadura e da revolução” – com todas as sessões já esgotadas, segundo Joana Craveiro - remete para um cenário de uma sala de aulas, ao longo da qual os atores vão explicando a “ideia de um país cinzento e fechado, no tempo da ditadura, onde se podia fazer muito pouco, onde as pessoas eram vigiadas e onde havia uma polícia política”.
O espetáculo “tem constituído uma experiência incrível”, por suscitar muitas perguntas sobre temas da história contemporânea de Portugal, que Joana Craveiro "não imaginara ser possível" em crianças tão pequenas.
“Nunca aprendi nada sobre aqueles assuntos, muito menos nos primeiros quatro anos de escolaridade”, disse à Lusa, mostrando-se “agradavelmente surpreendida” com a reação das crianças, que, de uma forma geral, têm conhecimento de alguns dos factos descritos no espetáculo, o que denota também “o quanto Portugal tem mudado”.
Nesta 'peça-aula' é também contada a história de um país que passou um tempo “a preto e branco”, onde havia resistentes e militantes comunistas, onde "se escrevia livros proibidos, onde havia pessoas que não sabiam ler, pessoas que eram obrigadas a emigrar e onde também havia rádios clandestinas”, observou.
As eleições presidenciais de 1958, em pleno período do Estado Novo durante o regime salazarista, com a candidatura de Humberto Delgado – o “general sem medo” - e a sua derrota num processo fraudulento, que viria a dar a vitória a Américo Thomaz, o último Presidente da ditadura do Estado Novo, são outros momentos da história falados na peça.
A guerra colonial e o assassínio de Humberto Delgado, em fevereiro de 1965, em Olivença (Espanha), às mãos de um grupo de agentes da polícia política do regime - a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) - liderado por Rosa Cavaco, são também etapas da história portuguesa não esquecidos no espetáculo, referiu.
Foi um período “obscuro” e cinzento ao qual sucedeu a “abertura” permitida pela Revolução do 25 de Abril de 1974, que, como indicou, trouxe o fim da guerra colonial, a liberdade e uma abertura do país ao exterior, entre outras vantagens.
A peça, que tem última representação no domingo, no S. Luiz, continua a privilegiar os temas que têm pautado o trabalho do Teatro do Vestido, centrado, sobretudo, na história contemporânea de Portugal, resultado da investigação realizada pela companhia e sua diretora artística ao longo dos tempos, e com a qual vão expondo a documentação reunida.
É um trabalho feito a partir de uma intensa pesquisa de quatro anos, que percorre mais de 80 anos da História de Portugal, centrando-se em três momentos períodos cruciais - a ditadura do Estado Novo, a Revolução do 25 de Abril de 1974 e o Processo Revolucionário que se lhe seguiu (PREC - Processo Revolucionário em Curso) -, construído tendo por base uma "ideia de conferência ou de palestra performativa", sublinhou Joana Craveiro.
“Era uma vez um país assim: Contar bem contadas a ditadura e a revolução”, para um público com idades compreendidas entre os seis e os 10 anos, estreou-se na segunda-feira, com representações para escolas, e para famílias ao sábado e domingo, às 11:00 e 16:00.
As sessões para escolas decorreram incluíam conversas com os artistas após os espetáculos.
O texto e a direção da peça é de Joana Craveiro, numa cocriação e interpretação de Estêvão Antunes, Francisco Madureira, Inês Rosado e Tânia Guerreiro.
Esta coprodução do Teatro do Vestido e do S. Luiz Teatro Municipal tem música e sons de Francisco Madureira, cenografia de Carla Martinez, figurinos de Ainhoa Vidal e iluminação de João Cachulo.
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