"L'enfer" (Inferno), o novo single de Stromae, foi destacado numa entrevista no horário nobre da televisão francesa. Um grito para chamar a atenção para os transtornos mentais gerados pela pandemia da COVID-19 ou pela pressão da popularidade de diversas estrelas pelas redes sociais.

"Tive pensamentos suicidas e não me orgulho disso", assinalou o artista, abatido por uma longa doença agravada pela chegada da COVID-19.

Os transtornos mentais não são novos na música pop. São o que levou a estrela do blues Janis Joplin a uma ovedose de droga fatal, em 1970; ao suicídio de Kurt Cobain (vocalista dos Nirvana), em 1994; e à longa luta com a esquizofrenia de Brian Wilson (o criador dos Beach Boys).

No início do rock and roll e durante décadas, os músicos esconderam-se sob a imagem de "artistas torturados". Num mundo constantemente controlado pelas redes sociais, porém, as novas gerações preferem abordar esses problemas de forma direta.

É o caso de Lady Gaga e da sua estreia difícil como artista, de Billie Eilish e das suas angústias adolescentes, de Adele e dos seus problemas com o álcool.

2021
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Entre 2017 e 2019, vários suicídios provocaram a desolação de fãs e do setor musical: a estrela da música eletrónica Avicii; Keith Flint, dos Prodigy; Chris Cornell, dos Soundgarden; Chester Bennington, dos Linkin Park.

"Todos eles morreram em menos de três anos", afirma Rhian Jones, jornalista britânico que escreveu o livro "Sound Advice" para ajudar os músicos.

"A indústria já não pode ignorar a sua responsabilidade sobre a saúde dos seus artistas, ou negar a existência de pressões específicas que acompanham uma carreira musical", acrescenta.

Estudos alarmantes

Vários estudos comprovaram o nível de depressão, ou transtornos mentais sofridos por músicos profissionais, acima da média de muitos outros setores.

INSAART, um órgão francês que fornece ajuda psicológica a artistas e técnicos, afirma que 72% dos entrevistados num desses estudos apresentava sinais de depressão, em comparação com a média de 12% da população em geral.

Outro estudo feito na Austrália diz que uma carreira musical plena pode chegar a reduzir a expectativa de vida em 20 anos.

O temperamento dos artistas desempenha um papel nada desprezível no momento de se lançarem no mundo da música e enfrentarem esses riscos. Mas, muito além do estrelato, nos bastidores, os músicos profissionais sofrem com a falta de segurança no trabalho, as digressões incessantes, as longas jornadas de trabalho...

"A música tem a fama de ser um trabalho apaixonante, por isso resiste essa ideia de que os artistas têm de agradecer, e não reclamar", explica a psicóloga e ex-manager Sophie Bellet, que ajudou a organizar a pesquisa do INSAART.

Irna, uma cantora dos Camarões que se estabeleceu em França, confessa que o pior momento é quando uma digressão acaba.

"Quando a digressão acaba, você pergunto-me 'porque estou aqui?' Sinto-me perdida no meio dos instrumentos. Não é uma vida real", lamenta.