"O objetivo era mostrar a plasticidade da música do Zé Mário Branco, é muito abrangente e inspirou muita gente de várias gerações. A obra dele é um mundo", afirmou à agência Lusa Rui Portulez, produtor executivo do álbum.
Com data de lançamento para o dia 24, véspera do 77.º aniversário do cantor e compositor, "Um disco para José Mário Branco" apresenta 16 temas revisitados por outros tantos nomes, quase todos da música portuguesa.
A abrir surge o músico brasileiro Lucas Argel, que canta "Queixa das almas jovens censuradas", e a fechar está o ator João Grosso a interpretar "FMI".
Para falar deste disco, Rui Portulez recuou a 2014, quando a Casa da Música, no Porto, acolheu um espetáculo por ele idealizado em torno do "maior cantor de intervenção/cantautor revolucionário" de Portugal, ainda vivo.
Na altura, no espetáculo participaram alguns dos músicos que entram agora no disco de homenagem, como João Grosso, Batida, e JP Simões, de quem é conhecida a versão de "Inquietação".
Para o álbum foram ainda convidados outros nomes que Rui Portulez sabia que tinham afinidades ou já tinha passado pelo repertório de José Mário Branco, como Osso Vaidoso, de Ana Deus e Alexandre Soares, e Primeira Dama.
Ermo compuseram "Eram mais de cem", com música nova para letra de José Mário Branco, e o rapper Ruas escreveu "Comboios parados", com um ‘sample’ da música "Cantiga para pedir dois tostões".
O produtor repescou ainda versões mais antigas que tinham já sido feitas, como "Fado Penélope", por Camané, "Loucura", por Mão Morta, e "Década de Salomé", dos Peste & Sida.
Destaque ainda para a inclusão de "Cantiga para pedir dois tostões", dos espanhóis Single, e "Hard Winds Blowin'", dos norte-americanos The Walkabouts, fruto de uma temporada que o músico Chris Eckman viveu em Lisboa.
A edição física do álbum inclui textos de quase todos os convidados, com impressões muito pessoais, memórias e opiniões sobre o universo musical de José Mário Branco.
"Depois de José Afonso, é este José o nome mais importante a fixar na música de intervenção, em particular, e como referência incontornável da música portuguesa, em geral", afirma Rui Portulez num dos textos que acompanham o álbum.
Nascido no Porto em 1942, José Mário Branco cumpriu em 2018 meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999. A edição sucede à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e um ao vivo, de um período que vai de 1971 e 2004.
Na altura, em declarações à Lusa, José Mário Branco dizia que não dá qualquer importância a efemérides e celebrações de datas redondas.
"Não são coisas que me motivem muito, tenho respeito pelo respeito das pessoas, mas essas histórias das efemérides…", afirmou.
O compositor não mostrava, então, pressas em gravar coisas novas, por preferir trabalhar para outros músicos - "Não me sinto menos interessado por não ser eu a cantar" - e a isto juntava ainda uma certa resistência em subir a um palco.
"Comecei a sentir-me um bocado museológico em cima do palco. Há uns tempos que eu não faço concertos nem recitais, mas felizmente não paro de trabalhar e de fazer coisas de que gosto imenso", disse.
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