O ensaio de Manuel Frias Martins é “um texto intelectualmente desafiador e profundamente claro no juízo ensaístico que empreende, aspeto este ao qual não é certamente alheio o rigor de linguagem apenso a esse mesmo juízo”, justificou o júri, composto por António Apolinário Lourenço, Helena Carvalhão Buescu e Isabel Cristina Rodrigues, em comunicado.
“Retomando ocasionalmente a racionalidade analítica e argumentativa do seu livro ‘A espiritualidade clandestina em José Saramago’, o mais recente ensaio de Manuel Frias Martins (‘Democracia Espiritual e José Saramago. Acrescenta-se Jesus, Whitman e Tolstoi’) é um sereno e poderoso exercício reflexivo sobre o conceito de democracia espiritual aplicado à obra de Saramago, mobilizando ainda os nomes de Jesus, Whitman e Tolstoi como traços de uma linhagem que encontra no autor de ‘Memorial do Convento’ o espaço seguro da sua materialização percetiva”, descreveu, ainda, o júri.
O autor foi escolhido por maioria, tendo António Apolinário Lourenço votado no livro “José Saramago”, de Carlos Reis e Sara Grunhagen.
Nesta obra vencedora, editada pela Fundação Saramago, Jesus, Whitman e Tolstoi são propostos acima de tudo como traços de uma linhagem intelectual, existencial e espiritual que ajuda a compreender a obra do escritor português como um dos mais interessantes lugares de manifestação dessa linhagem, explica Manuel Frias Martins numa introdução à obra.
O crítico literário é doutorado em Teoria da Literatura e professor aposentado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e colabora assiduamente com jornais, revistas e programas radiofónicos, sendo atualmente Presidente da Associação Portuguesa dos Críticos Literários.
Além disso, é autor de vários livros de ensaios, alguns deles já premiados, e tradutor, entre outras, de obras como “O Cânone Ocidental”, de Harold Bloom.
Segundo a APE, esta é a segunda edição do Grande Prémio de Ensaio Manuel Gusmão, com patrocínio da Câmara Municipal de Évora, e tem uma dotação de 12.500 euros.
No ano passado, o prémio distinguiu a investigadora Maria Irene Ramalho, pela obra "Fernando Pessoa e outros fingidores".
O poeta e ensaísta Manuel Gusmão, que dá nome a este novo prémio, morreu em novembro do ano passado, em Lisboa, aos 77 anos.
Anteriormente, o galardão intitulava-se Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho, em parceria com a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, com uma dotação de 7.500 euros.
Entre os autores premiados com este Grande Prémio contam-se Manuel Gusmão, Rosa Maria Martelo, José Gil e Helder Macedo.
O prémio destina-se a galardoar anualmente uma obra de ensaio literário, em português e de autor português, publicada em livro.
A APE atribui também outros grandes prémios, que reconhecem a literatura portuguesa na área do conto, do romance e da novela, da poesia ou da literatura de viagens.
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