Concebida pelo encenador e dramaturgo João Silva, a peça decorre num espaço fechado, que tanto pode ser um país ou apenas uma casa, onde estão várias mulheres que vão contando a sua vida em jeito de brincadeira, e uma diretora autoritária, disse o autor à agência Lusa.

A determinada altura, as mulheres envolvem-se numa discussão, acrescentou. Nesta farsa de costumes sociais, as personagens movimentam-se como presas e predadores, em ambiente de "empresa-conselheira".

A diretora autoritária, insegura e ridícula, viúva de um prepotente juiz e amante de um amigo de estimação, assegura a continuidade da empresa, como ela própria o diz, com “punho de ferro”, embora a sonolência do poder a desvie de observar o principal.

Como numa farsa, no final, a música e o entretenimento prevalecem, porque tal como diz o texto, “Qual crise nacional! Qual crise mundial!", o necessário é ir "à dança!”

Escrita de acordo com regras técnicas da área de saúde mental, "Casulo” é a nova produção do grupo que este ano comemora 50 anos de existência e tem nova interpretação no sábado, às 17:00, depois da estreia na sexta-feira à noite.

O Grupo de Teatro Terapêutico nasceu em finais de 1968, da vontade de doentes, técnicos e agentes criativos do Hospital Júlio de matos, e de doentes do Pavilhão de Homens, que resolveram levar avante uma experiência de teatro, "numa época de que carrascos e censores", numa referência direta à ditadura do Estado Novo.

Meio século depois, o grupo continua a trabalhar, embora com dificuldades face à escassez de meios de que dispõe, como disse João Silva à agência Lusa.

O GTT conta com 18 elementos, metade homens e metade mulheres, tendo o mais novo 22 anos de idade e, a mais velha, mais de 60. São pessoas em regime de tratamento e/ou internamento no hospital Júlio de Matos (Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa), em regime de tratamento ambulatório e ex-doentes da unidade hospitalar.

Há mesmo casos de pessoas que fazem parte do grupo, e que já não estão a ser submetidas a tratamento, disse João Silva, um dos fundadores do projeto.

"Cada peça de teatro é trabalhada em criatividade e em idêntico profissionalismo como as demais apresentadas por uma outra companhia", mas sem nunca descurar o lado terapêutico. O projeto GTT "é simultaneamente uma terapia e uma libertação pela arte, o teatro", lê-se na sua apresentação.

Ao longo de 50 anos "o GTT apresentou dezenas de peças, participou em inúmeros atos culturais em teatros, escolas, universidades, fábricas e noutros estabelecimentos, resistiu a confrontos e imposições, aderiu cuidadosamente às alterações e às mudanças 'abruptas' da sociedade".