Cinco alunos que estão a fazer um trabalho de casa sobre “Frei Luís de Sousa”, de Almeida Garrett, são o eixo da peça “TPC: Frei Luís de Sousaaa”, que se estreia na quinta-feira.
Produzida peça Razões Pessoais, a peça faz uma adaptação do texto clássico de Garrett para a contemporaneidade a partir dos temas que afastam hoje os jovens do texto, disse à agência Lusa Raquel Castro, que, com Pedro Gil, dirige a Razões Pessoais.
Ao mesmo tempo que estão o fazer o trabalho sobre aquela peça de Garrett para apresentarem na sala de aula - partindo da questão levantada pela professora sobre os temas em que a peça toca -, o grupo de alunos começa a falar sobre temas que a peça levanta como “o machismo, o facto de ser muito patriótica e de ser muito religiosa”, acrescentou.
A partir desses temas, os alunos vão criando aproximações à peça, trocando argumentos a partir de vários temas “que aos olhos de hoje” sentem que a peça levanta, frisou.
A linguagem da peça, característica do século XIX, a forma como o português de então se articula, e o romantismo são alguns dos temas equacionados pelo grupo, com alguns dos alunos a não se conformarem com a morte da personagem Maria, considerando que esta “não merecia acabar assim”.
A ideia de pôr “Frei Luís de Sousa” em cena surgiu “de uma reflexão” no seio da Razões Pessoais destinada a questionar o teatro na escola, observou Raquel Castro.
“E a forma como, no fundo, o teatro entra na vida das pessoas. Porque a maior parte das primeiras experiências com texto dramático e com o teatro, com uma ida ao teatro, muitas vezes são feitas através da escola”, acrescentou a atriz.
A reflexão centrou-se muito no facto de os textos dos conteúdos programáticos escolares “continuarem os mesmo de há 20 anos, pelo menos”, e o porquê de não haver uma atualização dos conteúdos programáticos.
Porque, apesar de as peças clássicas serem muito importantes ao nível da dramaturgia portuguesa e das questões formais relacionadas com o teatro, “achamos que há textos contemporâneos que podiam ser integrados nos currículos”, sustentou.
Raquel Castro considerou ainda que o facto de continuarem a lecionar-se textos clássicos não invalidava que pudesse haver algumas diferenças na forma como o texto dramático é abordado.
“Porque é dado de uma forma que hoje em dia está afastada do que é o teatro contemporâneo, está desatualizada”, defendeu.
Por isso, decidiram pegas nas obras que são dadas na disciplina de Português, começando por “Frei Luís de Sousa”, que é dada no 11.º ano de escolaridade “e é uma das mais interessantes”.
Enquanto peça romântica, o “Frei Luís de Sousa” que vai estar em cena no LU.CA põe ainda em palco um casal um jovem casal de adolescentes, fazendo com que a história destes cruze a da dramaturgia de Almeida Garrett.
Direcionada para jovens a partir dos 12 anos, a peça estará em cena no LU.CA até 27 de outubro.
No dia 31 terá duas sessões em Ovar, uma sessão numa escola e uma sessão noturna no Centro de Arte, acrescentou Raquel Castro, sublinhando que o espetáculo fica disponível para digressão.
Com texto e encenação de Raquel Castro, a partir da obra homónima de Almeida Garrett, a peça tem apoio à dramaturgia de Pedro Gil e apoio à criação de Tânia Alves.
A interpretar estão Ana Valentim, João Estima, Mário Coelho, Sara Inês Gigante e Rodrigo Machado.
A cenografia é de Joana Subtil e o desenho de luz de Tiago Coelho e tem coprodução da Razões Pessoais, do LU.CA – Teatro Luís de Camões e do Centro de Arte de Ovar.
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