O apresentador de 'talk show' norte-americano Jerry Springer, cujo programa se tornou um símbolo da televisão "lixo" com as suas agressões físicas em direto, discussões e revelações de infidelidade, morreu aos 79 anos, informou a imprensa americana esta quinta-feira.
A estrela televisiva, cujo polémico programa se tornou um sucesso internacional que durou 27 anos (foi transmitido em Portugal inicialmente pela SIC de madrugada), morreu tranquilamente em paz na sua casa em Chicago após "uma breve doença", disse o TMZ, citando um porta-voz da família.
No entanto, o TMZ, baseando-se em fontes anónimas, avançou que Springer tinha sido diagnosticado com cancro do pâncreas há alguns meses e a situação se tinha subitamente agravado.
Lançado em 1991, o "The Jerry Springer Show" começou por ser um "talk show" como tantos outros nos EUA, focado em assuntos sociais e políticos, liderado pelo então advogado e antigo político, que antes foi jornalística na área política, comentador, conselheiro de campanha de Robert Kennedy (Partido Democrata) e até, por um breve período em 1977, presidente da Câmara de Cincinnati.
Mas num esforço para aumentar as audiências, o filho de imigrantes judeus alemães, que nasceu em Inglaterra e foi para os EUA aos quatro anos, mudou drasticamente a direção, concentrando-se em conteúdo obsceno e ultrajante.
Transmitido em direto nos EUA e com alguns canais a repetirem duas e três vezes por dia no início do século XXI, sucediam-se as situações escabrosas, quase sempre relacionadas com o problemas da família, sexo, adultério e outras transgressões, em que os protagonistas, pares amorosos e outros grupos de pessoas, “lavavam a roupa suja” em público.
Springer terminava sempre o seu programa com a expressão "Cuide de si e dos outros" e supostamente o seu papel era o de mediador, mas os encontros muitas vezes acabavam em fortes discussões, com muitos insultos e até em agressões físicas, com os convidados a ser contidos por seguranças.
No final dos anos 1990, o programa aproximou-se dos sete milhões de espectadores e passou a liderar as audiências da televisão diurna nos EUA, superando até o programa de Oprah Winfrey.
O impacto cultural foi tão grande que originou um premiado musical britânico: “Jerry Springer - The Opera”.
Nas redes sociais, Springer declarava-se como "apresentador de talk shows, mestre do fim da civilização".
De facto, os seus críticos viram o programa como uma grande contribuição para o declínio dos valores sociais americanos, mas o apresentador recordava que os convidados se ofereciam de livre vontade, mesmo sabendo que podiam ser ridicularizados, humilhados e agredidos, situações que descrevia como "entretenimento escapista".
Com ironia, também costumava dizer às pessoas que o seu desejo era que "nunca estivessem" no seu programa.
Numa defesa que ficou célebre, disse que "a televisão não cria e não deve criar valores. É apenas uma imagem de tudo o que existe - o bom, o mau, o feio. Acreditem nisto: os políticos e as empresas que procuram controlar o que cada um de nós pode ver são um perigo muito maior para a América e a nossa preciosa liberdade do que qualquer um dos nossos convidados jamais foi ou poderia ser".
Após o fim do programa em 2018, criou um programa de tribunal, "Judge Jerry" ["Juiz Jerry"], que durou três temporadas.
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