Os canadianos Suuns são os responsáveis pelo início musical da noite e é um concerto íntimo aquele que apresentam. De Montreal, chega-nos o seu indie-kraut-rock e o público acompanha entusiasmado desde o início. As cadeiras não são suficientes, os corredores estão já repletos e a ânsia é demasiada, pelo que, pouco depois dos primeiros temas, muitas dezenas se levantam e da frente não mais saem até ao final da atuação dos Battles.
Os Suuns são "Zeroes QC (Secretly Canadian)", o seu recente trabalho, e são-no muito bem. São heróis e mestres na fusão perfeitíssima do seu kraut rock com apontamentos certos de eletrónica. Esta fórmula resulta eficazmente, tanto na melodiosa "Armed For Peace"como em"Arena", hino pós-rock de uma beleza singular. Ben Shemie sussurra e a sua guitarra torna-se intrigante, desde o primeiro tema ao último. Em "Pie IX" acontece a apoteose, a voz ritmada dita o compasso e leva-nos a viajar numa cinematografia musical perfeita.
Best Youth são dois, do Porto, e é um dos projectos mais recentes e estimulantes deste ano. "Winterlies" é um álbum harmonioso, detentor de uma perfeição bonita, bem conseguida. Os temas são simples, Ed ocupa-de da guitarra e sintetizadores, Catarina canta, no seu jeito tranquilo, um neo-romantismo electrónico que fazia falta. A sala está quase cheia e a banda merece-o.
E eis que chega a hora de Battles. Os ânimos estão exaltados e é assim que estarão até ao final da atuação. "Mirrored" e "Gloss Drop" são os cartões de visita a mostrar e eles mostram-nos demasiado bem. Recria-se o ambiente de Paredes de Coura, o trio continua trio (após a saída inesperada de Tyondai Braxton, oito anos depois da formação da banda), mas os três são suficientes e fazem a festa durante as duas horas que se seguem.
Pode dizer-se que se viveu um momento ímpar na Casa da Música. A vibração na Sala Suggia era tal que o chão tremeu do princípio ao fim. Os lugares sentados não faziam sentido numa noite assim e foi de pé que todos dançaram "Atlas", durante dez minutos de puro deslumbramento. Ian Williams não parou, o público não parou, nesse gesto coletivo de plena união musical entre banda e fãs.
"Tonto", "Ice Cream" e "My Machines" foram tocadas com a energia que tão bem caracteriza os Battles e todas as músicas foram ilustradas, através das imagens projetadas atrás da banda. Uma enorme ovação agraciou a banda e, no fim, quase duas horas depois, a rendição do público foi total.
Texto: Ana Cancela
Fotografias: José Pinto
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