Palco Principal (PP): A mini-digressão comemorativa do 30º aniversário da Sétima Legião, estreada na Casa da Música em maio passado, está prestes a regressar ao Porto. Que súmula fazem desse entretanto?
Gabriel Gomes (GG): Desde o encontro no primeiro ensaio até este concerto vai estar na memória da banda a cumplicidade e alegria que sentimos quando entramos em palco. Foi um prazer partilhar os arranjos e as melodias com o nosso público.
PP: Com 30 anos de carreira, imagino que um regresso aos palcos potencia tantos reencontros quanto o relembrar de muitas memórias e histórias que possam estar associadas às vossas canções e à altura em que foram compostas. Como tem sido este regresso ao passado?
GG: Pode parecer estranho, mas não tem acontecido tanto isso. Claro que há reencontros com espaços, palcos, memórias e pessoas, mas, no que me diz respeito, não sinto um saudosismo. Creio até que a Sétima Legião está a tocar melhor, e o envolvimento de cada um, bem como a performance, melhoraram, e assim se criou um espírito semelhante ao que sempre existiu mas diferente no seu resultado -mais maduro.
PP: Creio que grande parte do fervor vivido pelo vosso público nas vossas atuações advenha, em grande parte, dessa vossa fação mais nostálgica. Como se sentem ao comando desta viagem no tempo coletiva?
GG: Não me parece que neste espetáculo seja isso que acontece, porque toda a ordem é bastante mais festiva, mas é certo que a Sétima Legião sempre teve e vai continuar a ter uma feição nostálgica, fruto dos vários compositores da banda e de toda a inspiração que o nosso país nos transmite. E tudo isto é o fundo da nossa viagem, desde a música Pop até às raízes tradicionais, passando pelo Rock e pela música Celta. Tem sido o transporte para nós e para o nosso público.
PP: Graças a temas mais emblemáticos como Glória, Por Quem Não Esqueci e Sete Mares, e à sua demarcação face ao passar do tempo,a Sétima Legião conta com público renovado. Que responsabilidades sentem que acarreta este estatuto mais transversal?
GG: É, sem dúvida, reconfortante para todos nós vermos um público bem mais jovem cantar canções que já existiam antes de eles nascerem. Creio que se deve sobretudo a três fatores: o primeiro, o facto de os pais deles gostarem dessas canções e eles tomarem contacto direto com elas; o segundo, pelo reconhecimento que as rádios deram sempre a temas como os que refere; e, por último, a enorme possibilidade que as novas tecnologias de informação dão. Mas não sentimos nenhuma responsabilidade por isso. Não nos vemos com algum estatuto especial. São os nossos temas a razão de todo este reconhecimento.
PP: Aquando do concerto na Casa da Música, Pedro Oliveira, em nome da Sétima Legião, disse ser “bom voltar a casa. O Porto é a nossa casa”. Sendoa Sétima Legião uma banda fundada em Lisboa, de que modo a cidade do Porto se tornou na vossa casa?
GG: A cidade do Porto tem sido pioneira nas diversas áreas da cultura, desde a música, passando pela moda, cinema, arquitetura, literatura, etc. Desde sempre que a Sétima Legião recorda os concertos da Cruz Vermelha com o público ao rubro quando o Paulo entrava em palco com a sua gaita-de-foles. Sempre foi para nós um prazer enorme tocarmos no Porto. É por isso que quisemos começar nesta cidade. Este concerto foi muito importante. Por isso vamos ter um prazer enorme em terminar a digressãono Coliseu. Quero deixar um convite a todos para que assistam a essa celebração.
PP: Toda a reverência sentida na vossa última vinda ao Porto, e o bem como foram recebidos por um público que teve dificuldade em deixar-vos ir embora, elevou, de certo modo, a fasquia para o vosso espetáculo no Coliseu, próximo dia 11 de Outubro. Quais as vossas expectativas?
GG:É com a mesma expectativa do espetáculo da Casa da Música: de que o nosso público do Norte nos receba como sempre. Com o carinho característico do Norte. Para eles temos algumas surpresas de que deixo só uma pequena mostra. Temos preparado uma versão de uma música que muito nos marcou -o tema Atmosphere, dos Joy Division. Venham, vamos vivê-la juntos.
PP: Em entrevista ao Palco Principal, no contexto da vossa reunião para estes 30 anos de Sétima Legião, a ideia de um novo álbum de originais não foi posta de parte. Volvidos mais ou menos cinco meses de maturação da ideia, o que nos podem adiantar?
GG: Não quero adiantar muito. Não é a nossa prioridade neste momento. O espetáculo do Coliseu é o que está nas nossas mentes. Mas, a existir um álbum novo, isso será para o próximo ano.
PP: O vosso último disco de originais, "Sexto Sentido" (1999), diferencia-se dos restantes por uma abordagem mais eletrónica. Partindo do princípio que uma aproximação à contemporaneidade far-se-ia num distanciamento à "Madchester" dos anos 80, que sonoridades gostariam de explorar num hipotético novo registo?
GG: Nenhuma das nossas influências ficaria de fora, logo creio que tanto as influências de Manchester dos anos 80 como as novas abordagens eletrónicas musicais vão ser utilizadas. Existe na banda uma grande evolução na composição musical, mas também uma inata forma de compor que nunca vamos rejeitar. Saliento que a Sétima Legião sempre compôs de uma forma natural, sem preconceitos nem preceitos de ordem alguma, por isso é sempre também uma incógnita o que poderemos fazer. Gostamos de nos surpreender com o nosso trabalho.
PP: Cada um de vós tem uma vida profissional paralela. Como é porem essa vertente das vossas vidas de parte e regressar aos palcos e à sala de ensaios?
GG: Não creio que as nossas vidas profissionais paralelas estejam de parte. Da mesma forma que desta banda resultaram muitos outros projetos, também deles advêm mais resultados quando nos juntamos para tocar. Sempre fomos uma banda de amigos que nunca deixou de conviver nem de trocar as nossas experiências musicais, e assim irá continuar. Amizade e o carinho pela música será sempre o nosso ponto de partida.
Ariana Ferreira
Comentários