Palco Principal – Para este álbum decidiu fazer um tributo àquelas que são algumas das suas canções favoritas. Como procedeu à escolha dos temas?
Scott Matthew – Sempre tive o sonho de fazer um disco de versões. Tenho por hábito tocar versões nos concertos e a ideia era, se possível, colocar as mesmas em disco. Para além destas canções serem muito especiais para mim, elas representam aquilo que defino como uma “boa composição”. Ao longo da vida tenho criado uma banda sonora particular e estas canções têm um grande impacto na minha pessoa.
PP – “Unlearned” revela uma grande heterogeneidade de gostos. Como consegue albergar no mesmo coração canções de gente tão diferente como os Bee Gees, Joy Division ou Neil young?
SM - Tenho um gosto bastante eclético no que toca à música. Todas estas fantásticas canções fazem parte da minha forma de ser como cantor e, de uma forma consciente ou não, foram uma grande influência. Ainda que na sua forma original sejam canções pouco “compatíveis” entre si, são temas confessionais e muito honestos, e revelam muito da minha personalidade.
PP- Ao longo do disco a sua voz tem a companhia de instrumentos à base de cordas e o piano. É nesta companhia espartana que o Scott Mathew sê revê nesta fase da sua carreira?
SM - Gosto de manter uma certa instrumentalização na minha música. Alguns instrumentos podem parecer “cliché”, mas fazem parte da minha maneira de ser, sejam eles de perfil mais clássico ou folk. Há já muito tempo que descobri que este é o ambiente que mais aprecio e aquele que me faz sentir confortável. Com isto, não digo que esta instrumentalização possa resultar sempre, apenas refiro que é o que me parece mais certo neste momento. Sempre adorei, por exemplo, o som do violoncelo e do piano e tal sonoridade confere emoção no seu estado mais puro.
PP- Esta revisitação confere às músicas de “Unlearned” uma nova vida, em alguns casos muito longe da original. Acredita que as canções podem ter várias encarnações?
SM - Conservando a sua estrutura base, resolvi dar camadas diferentes a estas canções. O conceito continua lá, intacto. Os acordes, a poesia e a melodia continuam presentes e eu apenas conferi uma visão mais subjetiva ao seu conjunto, não querendo com isso abalar o seu todo.
PP – A simplicidade é uma das imagens mais marcantes deste disco. Acredita que as composições mais nuas de instrumentalização revelam uma alma mais pessoal, intimista?
SM - Sim, acredito. Para mim, a simplicidade é uma ferramenta que permite chegar ao coração da própria canção. Costuma dizer-se que uma grande composição pode ser tocada de formas várias e continua a revelar-se formidável. Gosto de atribuir honestidade à música. Arranjos deste género permitem ao ouvinte sentir, de imediato, uma ligação com a canção, seja através da voz, seja do som. O meu objetivo é permitir que as pessoas consigam um porto de abrigo em cada canção, que se descubram e entendam através da música. É, no fundo, a dádiva de um local de entendimento puro, um ombro amigo. Acho que os arranjos minimais têm esse condão.
PP- Ao ouvir este disco sente-se, de certa forma, o espírito de um concerto ao vivo. Tal intenção foi declarada?
SM - Sim, de certa forma. Nunca fui grande admirador de grandes produções. Apenas procuro ser honesto e oferecer esse sentimento. Os espetáculos ao vivo são muito importantes e estar em digressão é conseguir dar vida a um registo, a um disco. Se não me sentisse capaz de as interpretar ao vivo, a maioria das canções soaria a falso, faltaria honestidade e perder-se-ia a magia única que a performance ao vivo proporciona.
PP – Já que falamos de atuações ao vivo, integra o cartaz do Misty Fest. Que pode o público português esperar deste concerto? Um espetáculo apenas com base em “Unlearned” ou algo mais vasto?
SM – Vamos andar em digressão com o “Unlearned”, que é o meu quarto álbum de estúdio, como base. Os outros três, originais, podem também contribuir para estes espetáculos. Espero que sejam momentos simples e bonitos. Estou muito ansioso por voltar aos palcos.
PP- Conseguiu um culto invejável entre as gentes portuguesas. Qual a sua relação com Portugal?
SM – A minhas primeiras experiências em Portugal foram das mais intensas que tive. Sinto-me um privilegiado com o que tenho feito por terras portuguesas. Tenho alguns amigos por aí e tenho desenvolvido trabalhos com o Rodrigo (Leão) e os seus músicos. Sinto também grande afinidade pela vossa maravilhosa cultura. A música, as pessoas, são puras, simpáticas e muito abertas. Penso que existem muitas similaridades com a cultura australiana, há algumas coisas que me fazem sentir em “casa”.
Texto: Carlos Eugénio Augusto
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